Foto do blog: Mario Lamoglia

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Putadavidapracaralhomermo. Vai encará?



- Aproveitem o Dia dos Namorados! Gastem dinheiro, comprem presentes, flores, paguem jantares, chocolates, motéis, jóias, viagens, etc, etc, etc!!!

(Desculpem a revolta, mas dia dos namorados, das mães, dos pais, das crianças, é coisa de capitalista filhodumaputa que faz com que você gaste até o que não tem, pra comprar um dia alguém, que vc deveria se esforçar para conquistar diariamente. Que tal um carinho pela manhã, uma ligação no meio da tarde e um cineminha qualquer dia desses? Porque não um bilhetinho carinhoso, um recado no espelho, um abraço de saudade?)

- Comprem o celular de última geração, aquela pulseira divina - ouro branco cheia de brilhantes, oh! - ou aquele relógio fantástico, maquinaria suiça, o caralhoaquatro! Vão àquele restaurante Francês, que tem aquela comida orgasmática - pena que é pouca e se sai morrendo de fome de lá! Peçam aqueeeeela suite presidencial naqueeeele motel mais caro, com piscina, hidromassagem e espelhos espalhados até pelo chão!

(Desculpem mais uma vez a revolta, mas porque as pessoas se tornam mais sensíveis nas datas comemorativas? É excesso de propaganda? Bombardeio de cobranças? Egocentrismo tão perigoso a ponto de se necessitar de um dia no calendário para conseguir parar de admirar o próprio umbigo e olhar para o outro??? Que porra é essa??? Que mundo escroto é esse???)

-Comprem a calça da Gang, o cordão de cifrão de ouro maciço que se aperta entre os dentes, os vestidos da Osklen! Comprem, comprem...
- Consumam, suas antas carentes de afeto, compulsivas-loucas-esquizofrênicas-fóbicas, que não se mexem pra modificar porra nenhuma!!! - sussurram em quase segredo, de dentro da banheira de mármore cheia de sais aromáticos, segurando uma taça de Cristal - A champagne! - aqueles almofadinhasengravatados que só sabem ganhar - e gastar! - dinheiro; mais porra nenhuma nessa vida.

(Pra mim, basta que eu receba um sorriso, um abraço e sinta o cuidado diário - Não que não me delicie recebendo e ofertando presentes, não é isso, pelo contrário adoro dar e receber mimos... Mas não é só nessa merda de dia doze de junho, dia dos namorados, que as pessoas existem. Elas existem, amam, sofrem, desejam, se revoltam, necessitam, TODOS OS DIAS!
Então, se sacuda!!! Exista, ame, sofra, deseje, se revolte, necessite, sinta, sinta muito, TODOS OS DIAS também!!! - Experimenta só, pra ver se assim você não vai se sentir mais feliz... experimenta só...)


(As vezes acontece de ficar desse jeito - putadavidapracaralhomermo.
Mas relaxa, que passa. Então: Feliz Dia dos Namorados!)

Sylvia Araujo

Um comentário:

Unknown disse...

Poucas imagens são tão eletrizantes quanto esta -- a pessoa que perde o equilíbrio e passa a destilar revolta, esperneia contra algo que considera injusto ou desajustado, grita, xinga. Melhor ainda se os impropérios são dirigidos àqueles ordeiros e pacatos, os que rezam em silêncio (lembremo-nos do Evangelho: o endemoniado é o primeiro a se referir a Jesus como "filho do Deus altíssimo") ou dos que são ordeiros cumpridores de regras sociais há muito estabelecidas (dia das mães, das crianças, dos namorados etc).

O que talvez nos apresente neste texto é a ausência de uma virtude pequena, a Temperança. Como virtude, não visa a superar nossos limites, mas a respeitá-los: é a prudência aplicada aos prazeres. E se tenho prazer em comprar mimos, qual o problema ? Por que não fazê-lo ? Não entendo sua revolta direcionada a simples convenções sociais/comerciais. Por que não se revolta com os Don Juan da vida, que precisam de tantas mulheres ? Ou não se revolta com os alcóolatras, que precisam beber tanto ?

Mas a isso já dizia São Tomás de Aquino: os prazeres mais simples são também os mais fortes, e portanto os mais difíceis de dominar! O que a ausência da Temperança no seu texto mostra é o desejo de ser igual, não o podendo ser. O dia 12 de junho é dia dos namorados mas só tem sentido extracomercial para aqueles que transformaram o calendário, e curtem o dia 12 todos os dias. O mesmo vale para as demais datas. O mesmo vale para cada um de nós.