Foto do blog: Mario Lamoglia

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Eu sou!

"Quando nasci, um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
essa espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e,
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto, escrevo. Cumpro a Sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

A.P.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Miragem

Ela achou que tinha encontrado remanso.

Mas, que pena, era miragem...
Que pena, era só miragem...

Sylvia Araujo

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Leve


Já era hora mesmo de encontrar leveza... Seguir com falta de ar exaure. É preciso paixão e encantamento; mas viver apaixonada e encantada, com doçura e serenidade - pra variar só um pouco - é uma experiência única e absolutamente reconfortante.
Os passos, se dados conscientemente, um após o outro, nos levam aos objetivos com precisão cirúrgica. A palavra da vez é sabedoria. Quando se descobre esse segredo, a meta se torna buscar - incansavelmente - desbravar os caminhos que levam aos recônditos da alma, onde é possível encontrar a unicidade de todas as coisas, de todos os sentimentos, em um ambiente de harmonia e paz.
Desde que percebi que a chave da transformação está dentro de cada um, tenho me preparado dia após dia para essa nova vida que sempre almejei levar, e para a mudança necessária de atitudes e pensamentos para que isso de fato aconteça. Não existe nada mais exato do que o ditado que diz: você atrai o que transmite. Pura física! E eu estou em paz. Serena, tranquila, equilibrada. Sem nos darmos conta, as coisas começam a se encaixar e a vida se mostra mais dócil e menos rascante, quando enfrentamos os problemas sob essa nova ótica.
Não dá pra viver de dor e de lamentos; é inviável se alimentar de frustrações, culpas e medos. É preciso perceber que somos nós que fazemos a vida. Que somos nós que damos a ela o olhar que queremos dar; e que vivemos aquilo que nos direcionamos a viver, de acordo com nossas escolhas, de acordo com nossos caminhos. É preciso acreditar em dias melhores. É preciso sorrir com mais frequência. É preciso abraçar e amar pessoas queridas, aguçar os sentidos e perceber através deles, com novo vislumbre, o mundo deslumbrante que existe em volta de nós.
Visualizar os arredores com olhos vivos, faz com que nos sintamos e nos tornemos vivos também.
Não deixemos que a vida escorra por entre os dedos.
Não permitamos que ela passe por nós sem que tenhamos, ao menos, sentido seu gosto na boca.
Sejamos felizes, em cada mínimo instante da nossa tão breve existência. (Não deve ser fácil olhar pra trás e perceber que não fizemos tudo o que estava ao alcance das mãos.)
Que jamais nos arrependamos por não ter dado tudo, por não ter feito tudo, por não ter amado mais...

Sylvia Araujo

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Trilha Sonora

Coração na boca
[Lucina/Zelia Duncan]

"Adoro cortinas
Que se abrem
Adoro o silêncio
Antes do grito
Adoro o infinito
De um momento rápido
O instrumento gasto
O ator aflito
O coração na boca
Antes da palavra louca
Que eu não digo
Adoro te imaginar
Mesmo sem ter te visto
Adoro os detalhes
Olhares, atalhos
Botões
Adoro as pausas
Entre as canções
Soluções da natureza
Riquezas da criação"


Adoooooooooooooro! rsrs

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Dança

Ele um dia me disse que as minhas palavras dançavam. Eu já sabia, mas mantinha o segredo guardado, com medo de que elas pudessem me ouvir e perdessem o rumo dos passos. Letras descompassadas são como armas - das mais perigosas - destruidoras em massa. (É preciso cautela)
Desde que vi montes de mãos se entrelaçando no papel, estava certa de que ia ter baile; e que, dali em diante, tinha perdido o controle. Abri o salão e elas, calçadas com os melhores sapatos, escorregavam leveza na madeira lustrada dos meus versos e prosas. Dali saíam frases inteiras e períodos marcados de muitos compassos, e eu - no meu descompasso - aturdida, deixei que me fossem envolvendo.
Hoje não rabisco mais linhas sem acompanhar o seu ritmo íntimo. Minhas letras, arrogantes, não bailam mais sem marcação. Elas pedem pausa e inclinação. E eu dou. Porque, no fundo, no fundo, é por elas que eu sou.

Sylvia Araujo

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poesia

A poesia (me) escorre.
Os dias, com poesia, são mais vivos.
Os sonhos, muitomaisdoces, com poesia.
E os abraços, ah, os abraços... com poesia, os abraços - intensidade...

A poesia (me) socorre.
As dores, com poesia, sem mais rancores.
Os amores - reféns de ardores, com poesia.
E os momentos, ah, os momentos... com poesia, os momentos - encantamentos...

A poesia me leva. E me traz,
Feito onda quebrando na areia.
Me escorre, tal água de cachoeira.
Não acaba. Não tem ponto. Infiniteza.

A poesia me beija. E me fere,
Feito rosa crivada de espinhos.
Me socorre, tal mão em beira de precipício.
Não me solta. Não me deixa. Correnteza.

Eu quero viver de poesia. (E morrer dela)
Eu quero morrer com poesia. (E viver pra ela)

Sylvia Araujo