Foto do blog: Mario Lamoglia

sexta-feira, 28 de março de 2008

Que mundo bom seria esse...


Sorriso bom é aquele que vem de dentro. Vai brotando, tomando conta, sacudindo tudo, extasiando. Isso é sorriso bom; aquele que é meio cuspe, meio vômito, meio bocejo; incontrolavelmente libertador. Imprescindível!
Que começa tímido e quando a gente menos espera se transforma; vira gargalhada estrondosa-sacolejante. Falta ar, os olhos fecham, a barriga dói, mas o peito - ah, o peito!- esse se enche de tamanha alegria, que faz o cinza virar amarelo-ovo instantaneamente.
Como se dá essa transformação, eu não sei. O que sei é sempre o que sinto: arco-íris pinta o céu, pássaros se alvoroçam em revoada, até a lua se entrega e ganha rasgo, bem no meio daquela cara de bolacha, redonda, iluminada.
Sorriso bom mesmo é aquele que sai do meio, bem lá do fundo do meio... que contagia, inebria quem tá por perto. Ele, por fim, vira urro; de independência, de liberdade!

Que mundo bom seria esse, se todos os dias os sorrisos viessem nos dar bom dia.
Que mundo bom seria esse...

Sylvia Araujo

quarta-feira, 12 de março de 2008

Espelho



Ele veio despretensioso. Chegou aos tropeços, estabanado, esbaforido. Tinha um sorriso tão límpido que me afastou. Não sou muito adepta aos espelhos, e como me via em seus olhos sempre que eles me alcançavam a fronte, paralisei.
Aos poucos, fui percebendo que perceber a si próprio é sempre o mais importante e que, olhando pra aquele ser humano tão cheio de medos e de amor, eu tinha a mim mesma o mais perto que consegui estar, durante todos esses anos de abundantes reflexões. Se encontrar e se ver faz parte de um processo de cura que arde e queima absurdamente. Mas resolvi que quero estar aqui, ali, com ele e comigo. Independente da intensidade da dor, serei eu enfim. Me sinto liberta e isso me basta.
Talvez eu tenha, pela primeira vez na vida, me apaixonado por mim mesma. Não é avassalador, mas sutil e sereno. Aquela garota refletida na íris de alguém tão especial me despertou bons sentimentos, daqueles que você se sente bem só em sentir.
Decidi aceitar o auto-elogio, sem a insistente mania de virar as costas e esquecer tudo o que ouvi.
Talvez eu seja mesmo boa, uma boa garota. Talvez eu seja mesmo como ele, especial, iluminada... Depois que ele chegou, mesmo sem tê-lo, o mundo ficou menos opressor; vejo meu sorriso mais leve, minha dor mais amena...
É bom ter com quem dividir o amor, mesmo que o outro não saiba. Mas não faz mal, já que o que realmente importa é que, pela primeira vez, em toda a minha vida, o espelho me salvou.

Sylvia Araujo

terça-feira, 11 de março de 2008

Samba, meu samba querido...


Ah, que saudade do Samba, aquele amigo tão digno, tão íntimo, tão íntegro... Me faz falta requebrar nas sua rodas, abrir os braços e cantarolar feliz - de olhos fechados, em pleno gôzo - no meio de tanta gente bamba... (Feliz daquele que foi tocado por ele!) Como sinto a ausência! Como me enobrece o espírito aquela batucada-sorriso! Me entope o coração o som do pandeiro, a marcação do tantan e da cuíca, o delírio das sete cordas, a energia do cavaco... Que falta eu sinto da boa vizinhança, de quem vive, nas suas entranhas, o amor cantado nos versos mais cariocas...
Me aguarde, Samba das minhas alegrias! Me espere que em breve, muito breve, estarei - em corpo e alma de passista - deixando as tristezas de lado e caindo em seus braços mais uma vez; vibrando na sua cadência, na malandragem do seu inconfundível gingado, sorrindo com a leveza de quem supera tudo - numa nota apenas!
Samba, meu samba querido... um dos amores mais antigos e mais verdadeiros, em todos esses anos de estrada... Não me deixe por muito tempo, abandonada à minha natural melancolia, e te prometo que meus pés descalços pisarão seus terreiros, minha garganta reproduzirá sua voz, e meu sorriso genuíno te enaltecerá por todo o sempre!

Louvado seja meu Samba. Amém.

Sylvia Araujo

segunda-feira, 10 de março de 2008

Ando meio ácida.

Nada que um pirulito de morango (em forma de coração!) não resolva...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Flor


O sol está brilhando lá fora. E Ela não tira da cabeça o dia em que viu aquela flor. Jamais sentiu tamanha doçura no coração. Mas não é a flor, é Ela. As cores se misturando e o cheiro adocicado, apenas despertaram em si o sentimento de ser.
A flor é. Delicada, perfumada e com traços só seus, não saem da cabeça de quem se deixa tocar pela profundeza, da simplicidade e da pureza, que carrega consigo. E Ela se deixou tocar; acariciar, deliciar... Viu - e sentiu - o poder da vida em sua simples carapaça de vida.
O mundo está correndo lá fora. E Ela não tira da cabeça a flor que um dia viu, esparramada sobre o muro cinza - rachado, imundo. Estava lá, resplandecente - deslumbrante - em sua importância de flor. Viu - e sentiu - o sopro de amor que vinha, e se deixou acalentar, alimentar, sorrir... guardou pra si a amplidão do que viveu, naquele mínimo instante em que se deixou tomar pelo belo.
E a partir daí, tornou-se a mais linda delas... Desencantou e se encantou com as sensações que o viver nos traz. Não é mais Ela e sim Flor, com todo seu encanto e ardor.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 6 de março de 2008

Novo amor

Quando vejo um novo amor, sinto. E entrego corpo e alma praquele que me vê. Não é qualquer um - nem pode ser - porque muitas vezes me faço sombra, me faço assopro, evaporo.
Mas quando um novo amor me vê, não tenho mais o que esconder. Ele me tem inteira, mil pedaços do meu eu - quebra-cabeça de imensas proporções. E me revelo, escancaro, ensolaro... meu coração é sem mais cadeados, trancas ou afins.
Quando sinto um novo amor, abraço - apertado, demorado - E não largo. Nunca mais.

Sylvia Araujo


Homenagem aos mais novos melhores amigos de todos os tempos (vocês sabem, vêem e sentem quem são!!!)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Às vezes


Às vezes acordar é estranho. O sol acinzenta, e o céu - de liso azul - se enche de nuvens, daquelas bem pretas e pesadas como chumbo. É o anúncio de tempestade no peito. Chove torrencialmente cá dentro, e tudo inunda, tudo imunda. Quando se entopem os bueiros, os olhos vazam. E não páram.

Às vezes dormir é estranho. O corpo tem urgência de calma - de alma - mas a mente acelera tal tromba d`água, testando os limites, ultrapassando as barreiras. As pernas se cansam de bandeiradas. Por vezes tremem, por vezes desabam. Quando não dão passo a frente, os olhos vazam. E não páram.

Às vezes seguir é estranho. É complexo caminhar com venda nos olhos, tateando o destino. O futuro se enche de atalhos e escolher paralisa - emudece. Quando o medo não cabe no peito, estrapola. Os olhos vazam. E não páram.

Às vezes chorar é estranho. Vazam amores, pudores, dores. Vazam ilusões e desilusões da mesma maneira em que escorrem alegrias e tristezas. Daqui do meio, tudo vira lágrima. Tudo se esvai em poça. E a vontade que dá é de, correndo, ir lá e sorver tudo de novo - pra não esvaziar, pra não embrutecer.

Sylvia Araujo