Foto do blog: Mario Lamoglia

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ouça Música

[Aurea Calcavecchia]

"Dias iguais.
E enquanto não é recuperado o juízo, ouça música.
Música para tudo e mais o que faltar. É o único remédio.
Para o cansaço, a música relaxante que encontrar.
Para o tédio, a mais animada que existir.
Para a tristeza, a mais bela, para curar a dor.
Para a felicidade, a mais clara e leve, para ilustrar.
Para a angústia, aquela que disser o que você procura ouvir.
Para solidão, a que te dê colo.
Para o medo, a que te salve pela melodia.
Para a incerteza, a mais revolucionária.
Para nenhum desses, a música que estiver tocando.
Não desista. Não se entregue.
Ouça música."


E dance...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Lenine e Julieta Venegas)

Miedo
[Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis]

"Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá"


sexta-feira, 24 de julho de 2009

Viagem

As palavras partiram. Voaram pra longe pra devorar novas entonações, sem um único adeus. Elas normalmente me deixam quando têm fome - vez ou outra me escapolem.
Hoje não me tira o sono saber que foram. Nem se voltam. Ou quando chegam. Nosso amor é cativo, intimamente puro; e mesmo que pareça tão duro, é rio - desagua sempre em ritmo certo.
Por hora acordo vazia - de um vazio que não dói, afaga. Pre-encho então meus dias com frases feitas e outros excessos, que não meus. Virou rotina, neste destempero, muitas palavras estranhas se esfregarem em mim. E eu deixo. E rodopio com elas. Quando o som acaba, olho com olhos de despedida que acalenta, e sigo.
Me faz bem estar só.

Sylvia Araujo

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quando tudo acabar vou correndo prum Spa. Bem longe, lá na lua, se possível.

Sylvia Araujo

Prosa que dança

"O sono pode ser música para qualquer dança e fazemos crianças toda vez que nos olhamos. Você sopra sussurros tristes, numa voz cansada, tudo cansando e meu abraço te enlaça. Você fica aí cheia de sede de vida e eu cheio de tempo pra te fazer voar, tanto tempo tenho para te fazer gritar, sorrir, gemer, sei lá. Faltava pouco para colocar aliança no seu dedo, subir no cavalo e te fazer minha noiva.

Minha mulher não chore nunca quando estiver sozinha, lembre-se que a gente podia ter tido o mundo, mas você rasgou minhas poesias no meio, freou com todos os seus receios e na nossa inexperiência absoluta, canina, cretina e burra, deixou nós dois assim, feito noite e alvorada, feito calor e lágrima, suor e frio. Nós dois tínhamos o mundo, sexo oral e outras alegrias, tínhamos até o que não era orgia, o que era prematuro, suave, comum. Nós tínhamos ventos estelares, gozos cavalares, danças engraçadas e uma calçada inteira de músicas nossas, músicas que não eram nossas, mas eram.

Você experimentou minha língua, meu beijo com gosto de cereja, fez mousse de morango para me fazer feliz e deixou em mim todas as cicatrizes que seriam carinhos se não fosse o vazio, seriam felicidades se não fossem cortantes. Enlata todas as minhas palavras pra você e queime tudo, fuja do meu mundo, cante alto, grite alto, fale alto até não ter mais voz.

Primavera deixe eu dormir antes da dor de dente, e não me faça mais uma vez me sentir deprimente, só porque nunca mais vou parar de te amar. E vou."


Daqui ó.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Santa humanidade...




Mais ilustrações, aqui!

Amigos

Colo em trovoada.
Brisa no calor.
Flor na seca.
Girassol na chuva.
Cachecol na neve.
Patins na primavera.
Abraço na tristeza.
Sorriso na tensão.
Silêncio na palavra.
Soluço na dor.
Chegada no esperar.
A solução mais simples que se possa cogitar.
E é por eles que eu sou, é por eles que estou, é por eles que eu sigo. E vou longe: porque tenho os melhores amigos de todo o universo intergalático!

Amo vocês, meus nortes.

Sylvia Araujo

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Entre a razão e o coração

Deficiente

"Em que há deficiência; falho, imperfeito:
Pessoa que apresenta deficiência física ou psíquica." (Dicionário Aurélio)

"É aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono de seu destino." (Mário Quintana)

Louco

"Que perdeu a razão; alienado, doido, demente: Que está fora de si; contrário à razão ou ao bom senso; insensato: Dominado por paixão intensa; apaixonado, perdido: Que se porta de maneira pouco sensata, inconveniente; esquisito, excêntrico: Imprudente, imoderado, temerário: Estróina, extravagante, doidivanas: Travesso, brincalhão, folgazão. Fora do comum; incomum, enorme, extraordinário: Diz-se daquilo que revela loucura: Indivíduo louco" (Dicionário Aurélio)

"É quem não procura ser feliz com o que possui." (Mário Quintana)

Cego

" Privado da vista. Alucinado, transtornado; obcecado: Que impede a reflexão, o raciocínio; que perturba o julgamento, oblitera a razão: Total, absoluto; irrestrito:" (Dicionário Aurélio)

"É aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores." (Mário Quintana)

Surdo

"Que não ouve, ou quase não ouve; mouco. Pouco sonoro; pouco audível: Feito em silêncio ou sem ruído. Oculto, secreto, esconso: Feito, tramado, maquinado às ocultas, em surdina:" (Dicionário Aurélio)

"É aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês." (Mário Quintana)

Mudo

"Impossibilitado de falar; privado do uso de palavra por defeito orgânico.
Impedido de falar em virtude de inibição psíquica (emoção, medo, ódio, etc.).
Que se abstém voluntariamente de falar ou responder; calado, silencioso.
Que não se expressa por palavras:" (Dicionário Aurélio)

"É aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia." (Mário Quintana)

Paralítico

"Que ou aquele que sofre de paralisia. Perdeu a função motora em determinada parte do corpo. Perdeu a função sensorial." (Dicionário Aurélio)

"É quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda." (Mário Quintana)

Diabético

"Diz-se de, ou aquele que sofre de diabetes, esp. de diabetes melito. Aquele que sofre de síndrome caracterizada por uma eliminação exagerada e permanente de urina. Quem sofre distúrbio metabólico consequente a baixa produção de hormônio antiurético, e caracterizado por polidipsia, poliúria, e, muitas vezes, grande apetite e perda de força; diabetes insípida." (Dicionário Aurélio)

"É quem não consegue ser doce." (Mário Quintana)


Ah, o mundo sem os poetas... não sei não...
* Suspiro*

O que será que as ovelhas contam antes de dormir?


Mais legumes fofíssimos, aqui!

Ao trabalho

"É com gente miúda que lido... e não com coisas. E porque lido com gente, não posso negar a quem sonha o direito de sonhar"
[Paulo Freire]

"O maior bem que podemos fazer aos outros
não é oferecer-lhes nossa riqueza,
mas levá-los a descobrir a deles."
[Émile Louis Laveleye]

Vivendo, lendo e aprendendo


Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico:


No novo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, diz-se do “estado de quem é acometido de uma doença rara provocada pela aspiração de cinzas vulcânicas”.

Pois é. Me sinto até mais culta depois que somei esse palavrão ao meu pequeno dicionário interno. O único problema é conseguir falar isso tudo sem gaguejar.

(Treinando)

PS.: Não lembro de onde tirei essa informação magnífica... se alguém souber, please, me diz, pra eu dar os devidos créditos aqui? Brigadim...

Petits gestes


Nada como rever O Fabuloso Destino de Amélie Poulain pra sentir o coração palpitando de novo no peito. Esse filme é um dos mecanismos que deveriam se tornar obrigatórios, sempre que cansamos de estar atentos ao poder vital dos pequenos gestos. Com uma simplicidade absolutamente deliciosa e comovente, encabula a irritante mania que todos temos - vez ou outra - de nos fingirmos de planta frente à dor dos outros.

Hoje acordei Amélie. E que ela esteja sempre presente nos meus dias mais reais. Amém.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vai pra ver mais delicadezas!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Transe


Namorado-brilhante, meu consultor vitalício para assuntos musicais, chegou um dia um muito mais eufórico do que o normal:
- Você pre-ci-sa ouvir esse som! É a sua cara!
E eu, com meus ouvidos-psicopatas atentíssimos, parei tudo pra tatear a boa nova, óbvio.
Morri. E revivi. Várias e várias vezes. E toda vez que coloco pra tocar, desfaleço e ressuscito de novo. É quase um transe hipnótico, juro.
Hoje eu digo com a mais concreta convicção que, de tudo de mais novo a que tenho sido apresentada nos últimos tempos, Beirut é o melhor de todos os mundos. Um arquipélago à parte.
Duvideódó alguém conseguir sair ileso depois de ser devorado por Elephant Gun.

Aproveitando o post musical, outra nova delícia que anda me afagando bastante os cabelos é o charmosérrimo indie de Belle and Sebastian.

Ficadica.
Sylvia Araujo

Igualitando

"Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro."
[José Saramago]

Não entendo como, em pleno 2009, ainda possam existir pessoas capazes de julgar o outro pelas suas diferenças. Homossexuais, simpatizantes, negros, pardos, ateus, budistas, obesos, anoréxicos, egoístas, solidários, militantes, acomodados, portadores de necessidades especiais, atletas... são tantas diferenças, tantas singularidades - particularidades pra distribuir e vender!
Cada um é cada um, sujeito singular e multifacetado - cheio até a boca dos seus próprios senões e poréns - e não, não existe um unicozinho par idêntico nesse mundo-vasto-mundo pra contar história.
Juro que me esforço, mas não consigo administrar tanto dedo em riste que vejo por aí. Por que não se pode simplesmente respeitar (e respeitar é muitíssimo diferente de tolerar) a direção de cada atalho? Por que não se pode olhar o dentro de cada ser humano ao invés de tachá-lo, rotulá-lo, de simplesmente excluí-lo? Pra mim, é pequenez demais se achar tão grande a ponto de anular a importância da vida do outro. (grande, imenso mesmo, é aquele que absorve todas as matizes e cria a partir delas sua própria nuance)
Quer dizer então que só heterossexuais-brancos-magros-lindos-ricos e saudáveis se edificam em alegrias e tristezas? Só eles têm um coração que pulsa? Ah, pode parar, que eu vou descer é já!
Num mundo em que é preciso haver lei pra punir discriminação, pra coibir desrespeito, pra garantir direitos de cidadãos contribuintes, eu não tô afim de caminhar não. Estanquei.
É por essas, e muchas outras coisitas, que prefiro mil vezes reverenciar o submundo idílico dos sonhos que sonho. Pelo menos lá - mesmo que seja só lá - toda diversidade é.

Sylvia Araujo

Pororoca


Tenho mesmo esses repentes de virar rio sem avisar, confesso. Já tentei autocontenção e represália. Não adianta.
Quando transbordo - bote em punho - pratico rafting.
Encontrei a solução perfeita pra sempre me querer bem.

(Nada como uma pitada de aventura, quando a vida insiste em virar lago.)

Sylvia Araujo
"Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas..."

[Marla de Queiroz]

Pra florescer

Mas que mania que os dias têm - todos os dias - de me anoitecer!

(Pra me distrair, eu pinto sonhos e planto sóis pelos atalhos e jardins afora.)

Sylvia Araujo

terça-feira, 14 de julho de 2009

Empatia

Ela perde o bebê. Aos oito meses de gravidez. E mesmo que não faça mais parte da minha vida, nem nunca mais vá fazer, isso dói em mim. Como se fosse meu o diminuto fruto arrancado.

(meu coração pede que, apesar do peito dilacerado, ela siga em frente, em paz. e que nunca desista da alegria dos momentos únicos com que a vida nos brinda, incansável)

Sylvia Araujo

Ninho

Cá no meu mundo, soluço é ocre-alaranjado. Com um quê de tenro, outro de azedo, se assemelha a brisa silenciosa sobre mar revolto.
Já tristeza é macia e úmida. Mesmo com tantas nuances desnudas-carnudas, dourada se desfaz em inocente e avermelhado botão.
O lamento, esse é agridoce. Hesitante, entorpecido entre lascas de secura estéril e um bocado acetinado de miragem esmaecida, desfila na língua que insiste em se refletir sensível.

Cá no meu dentro, o sofrer se desfaz e se distrai em mim. Enquanto beija flor descansa - asas pro alto - correnteza baila descompassada e girassol sussurra letras rimadas, eu desmeço e me despeço do tempo anoitecido, para ser livre-liberta em horizonte infindo.
Desejo, então, à lânguida estrela-ardente, uma pilha de poesia soprada ao vento e um imenso monte charco-vivo de sentimento.

Cá no meu tempo, minhas asas flanam sol-a-pôr-do-sol. E no meu mundo, tão vasto e descabido mundo, tudo é beleza e estranhamento-cúmplice. Até lágrima que escapole seca, me amarela, me irradia.

Nesse meu canto - pros meus encantos! - rodopiam desembestadas palavras efêmeras-cruas. Elas sorriem embriagadas e me desmontam - dor após dor - com um frenético - e intrépido! - mi bemol intenso de armaduras nuas.

Sylvia Araujo

Tal borboleta

Daqui de dentro eu azulo - faço do cinza casulo.
E quando saio, ah, quando pairo...
é tanta cor que entontece!

Sylvia Araujo

Indolor

Você pode ser quem quiser. Fazer o que quiser, dizer o que quiser, sentir o que quiser!
Só não me machuca... por favor, não me machuca...

Sylvia Araujo

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um sopro de singelezas

"Não gosto de dar confiança para a razão. Ela diminui a poesia."
[Manoel de Barros]

"Não quero viver como uma planta que engasga e não diz a sua flor."
[Ana Jácomo]

"Eu sempre sonho que uma coisa gera."
[Adélia Prado]

"Abramos o coração para a beleza, até nos tornarmos a própria beleza."
[Pierre Levy]

"Quero a delícia de sentir as coisas mais simples."
[Manoel Bandeira]

"Sou doutras coisas. Fiz o meu barco com guitarras e com folhas; e com o vento fiz a vela que me leva. Sou pescador de coisas belas, de emoções. Sou a maré que sempre sobe e não sossega."
[Fernando Tordo]

"Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além."
[Paulo Leminski]

"Alguma coisa em mim vai longe. Alguma coisa em mim não tem mais fim..."
[Alice Ruiz]

"Vivo tão intensamente o momento presente que quase chego atrasada ao momento seguinte"
[Rita Apoena]

Previsão do tempo pra hoje

Forte tempestade pela manhã. Nevasca ferrenha à tarde. Geada enregelante à noite.

Enquanto o tempo não desanuviar, não saio de dentro de mim.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Pra levar na mochila:

Pra dias nublados, um pocket sun.
Pra horas de engarrafamento, um frasco de gargalhadas.
Pra momentos tristes, duas ampolas de mel.
Pra noites estreladas, um espelho (pra que elas multipliquem).
Pra tempo frio, uma caixa de abraços mornos.
Pra usar no trabalho, um fio de criatividade.
Pra dias de chuva, dois braços abertos.
Pra encontrar os amigos, meu chocalho.
Pra viagens mais longas, um colar com um pingente enoooorme de saudade.
Pra namorar, uma dose generosa de cumplicidade.
E pra ir na esquina, um maço de cigarros, um isqueiro e as chaves de casa.

Sylvia Araujo


Clarice e eu. Eu e Clarice.

(clica no título pra ver a fonte!)


Esse blog é uma delícia! Vale a pena viajar por lá.

Eu sou! Eu sou!

"Nefelibatas são aqueles que vivem nas nuvens, donos de mentes aéreas, imaginativas. Perdem-se em sonhos, ainda que acordados. Entregam-se às suas fantasias e utilizam-se dessa forma de escapismo, evasão. Vivem em um mundo próprio, alheios à realidade; julgam-na enganosa, fruto de um imaginário coletivo. Discursos enganadores, alienismo adestrado, palavras, promessas que se perdem no vazio. Elaborando teorias da conspiração, acham suas idéias revolucionárias e progressistas. No fundo, tal maneira de viver é fruto de uma profunda insatisfação com este mundo, estimulada por um coração intrinsecamente sonhador. Na literatura, diz-se do escritor que não obedece às regras literárias, despreza processos simples, fáceis de construção textual, preferindo a excentricidade de processos."

(texto extraído da descrição da comunidade Nefelibatas, do Orkut)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Inteligente, bonita e gostosa. Ah! E modesta, claro...

Eu nunca tive paciência pra sessões de embelezamento. Só de pensar em passar mais de 40 minutos em um salão, já me dava calafrios. Ouvir pessoas falando sobre a novela, como se estivessem discutindo o fim trágico de um ente querido, me dava nós horrendos no estômago. E quando o tema é celebridades - cometas ou não, não há distinção - e o povo chora junto, ri junto, toma partido e entra em depressão profunda (e coletiva!) pelo galã? Tortura crudelíssima!
Sessões de corta-hidrata-pinta-escova-agoraapiastra, lixa-dábrilho-colore-esperasecar, pernainteira-virilhacavada-axila-buço-tudosempelos, lava-esfolia-cremenoturno-cremediurno... respira... praáreadosolhos-olhaoprotetor, entranaloja-olhaasararas-experimentadez-sóentramcinco! Aff! Só de escrever já cansa a beleza.
Hoje continuo achando tudo isso um pé no saco. Mas ao invés de fugir das artimanhas femininas para valorização do layout, levo um mp3, ou um livro, ou fico alheia olhando a TV e até me divirto - vejam só! - com as figuras mirabolantes que vêm e vão, e fazem do salão seu analista, seu confessionário, sua compulsão, no mínimo semanal. Tudo em prol da imagem que quero ter.
Deixei faz tempo de achar que mulher bonita é necessariamente burra, e que mulher inteligente precisa cuidar do intelecto, e pode se dar ao luxo (de vez em quando) de passar um gloss básico nos lábios.
Saí correndo do instinto de gata borralheira que sempre se fez sombra nos meus passos e fui de encontro ao amor próprio. Porque, hoje eu sei, que cuidar de si mesma, se sentir bela e atraente é maravilhoso, quando não se precisa disso para ser quem se é. Imagem é muito. É através dela que você atrai pessoas afins, que você faz amigos, que você arruma um emprego que te caia bem... mas não é tudo. Por isso, quando cuido da fachada, aproveito sempre pra dar uma olhada na casa. Só pra me certificar de que tudo vai bem com as fiações e os encanamentos, pra que não corra jamais o risco de desempalavrar de frente pro espelho.

Sylvia Araujo

Essa coisa de ctrl C + ctrl V em texto alheio, sem dar os devidos créditos é feio, minha gente, muito feio...
Ai, ai, ai!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Brincando de viver

Em trabalho novo, tudo é novidade. Sempre. E agora, até agosto - quando vou começar com adolescentes (ri, ri mesmo...) - estou observando e acompanhando um grupo de faixa etária até 12 anos. Crianças não são mole. E quando a realidade delas é infinitamente diferente e distante da sua então, é surpreendente o tempo inteiro. O aprendizado é inumerável.
Hoje fiz uma "atividade de reações" com eles. Todos tiveram colados em suas costas papéis com uma ordem, sem saber do que se tratava : me abrace!, me ignore!, me olhe nos olhos!, vire as costas pra mim!, etc. Cada um ia ter que obedecer e reagir à ordem que estava escrita nas costas do outro. No início eles ficaram confusos, mas aos poucos foram percebendo o espírito da coisa, e participaram da brincadeira. As ordens de distribuição de afeto foram quase que 100% ignoradas. E as ordens de repulsa, quase que 100% executadas.
Na roda, depois da atividade, pedi que cada um tentasse identificar que ordem tinha nas costas, baseado nas reações que recebeu dos colegas. A maioria acertou, porque arrumou um jeito qualquer de burlar as regras, claro.
Depois, o papo foi sobre o que cada um sentiu com as reações dos outros. Os que tinham ordens de repulsa, em sua maioria, disseram que ficaram tristes e solitários; já os que tinham ordens de afeto, acharam engraçado. Quando perguntados sobre que ordem gostariam de ter nas costas, todos eles optaram pelas de distribuição de carinho e atenção.
Então a questão levantada foi: se vocês querem receber abraços, beijos e cuidados, porque não fazem isso com quem gostam, com seus amigos, com a sua família? Porque não demonstram o quão importantes e queridos eles são pra vocês? Branco. Total. Um olhava pro outro com aquele risinho sem graça preso no canto da boca, e disparavam comentários eufóricos e atropelados: a gente fica sem graça!, eu não abraço menino!, ela é chata!, etc e tal.
Não sei se os meus questionamentos e a falta de resposta deles vai servir de alguma coisa ou ficar pra semente. Eu espero que ao menos uma luzinha, bem pequenininha que seja, eu tenha podido acender dentro de cada um, mas o caminho a ser trilhado depende de escolhas e oportunidades que eles vivenciarão por si mesmos durante toda uma vida. E esse, infelizmente, já não depende de mim.
No fundo, lá no fundo-nem-tão-fundo-assim, o que todo mundo queria mesmo era ser capaz de amar e ser amado sem tanto preconceito, sem tanto pudor, sem tanta regrinha de comportamento empacotado.
O que me comove muito - e não sei por que cargas d'água ainda me deixo tocar, mas ainda bem que é assim - é que são apenas crianças, pequenos serezinhos em formação que em breve se tornarão adultos egoístas, distantes, frios, sozinhos, quiçá maldosos, nesse mundo cão.

Sylvia Araujo

Óhnnnnn

(clica no título pra conhecer a fonte!)

Sô Cartola!

"Deus me inventou pra desespero do diabo
Eu fiz do samba Catedral do Inferno
Louca, muito louca, endoidecida
Vou fazendo desta vida
Tudo aquilo que bem quero"

Incredulidade

Ele coleciona palavras que não tem coragem de usar.
Ela usa palavras que não tem coragem de colecionar.

As palavras sorriem. Um sorriso engraçado - meio de lado.

Sylvia Araujo

De "O Anjo Bêbado"

"Quem coleciona selos para o filho do amigo; quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava; quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho; quem segura sem temor uma lagartixa e lhe faz com os dedos uma carícia; quem se detém no caminho para ver melhor a flor silvestre; quem se ri das próprias rugas; quem decide aplicar-se ao estudo de uma língua morta depois de um fracasso sentimental; quem procura na cidade os traços da cidade que passou; quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada; quem costura roupa para os lázaros; quem envia bonecas às filhas dos lázaros; quem diz a uma visita pouco familiar: Meu pai só gostava desta cadeira; quem manda livros aos presidiários; quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio; quem escolhe na venda verdura fresca para o canário; quem se lembra todos os dias do amigo morto; quem jamais negligencia os ritos da amizade; quem guarda, se lhe deram de presente, o isqueiro que não mais funciona; quem, não tendo o hábito de beber, liga o telefone internacional no segundo uísque a fim de conversar com amigo ou amiga; quem coleciona pedras, garrafas e galhos ressequidos; quem passa mais de dez minutos a fazer mágicas para as crianças; quem sabe construir uma boa fogueira; quem entra em delicado transe diante dos velhos troncos, dos musgos e dos liquens; quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência; quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição; quem se desata em sorriso à visão de uma cascata; quem leva a sério os transatlânticos que passam; quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz; quem de repente liberta os pássaros do viveiro; quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo; quem julga adivinhar o pensamento do cavalo; todos eles são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre."

[Paulo Mendes Campos]

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Para Francisco

(clica no título pra conhecer a fonte!)

"Nas horas tristes, filho, não diga nada. Coloque um silêncio bem alto no aparelho de som. E comece a escrever bem baixinho. (Chorar até que pode, desde que não lhe embace a vista). Só não pare: tristeza é pra escrever. Tome posse dessa dor que é toda sua. Até que passe e venha outra mais bonita."

"A palavra amor seguida de um ponto final é para poucas pessoas e poucos momentos. Para poucos porque é muito."

"Calhou que para mim não veio coisa fácil. Desde sempre foi assim. Uma sensação de estar só, um sentimento de não ser. Até entender que eu estava mesmo era em minha boa companhia. Mas ela se ausenta, vez por outra. E assim se seguiu a vida: a me mostrar que eu não iria pela boa e velha estrada. Eu pegaria os atalhos. Às vezes me pego querendo ser como, querendo ser que nem. Mas quando chego perto, descubro um todo mundo tão igual. No desejo de ser e não ser, de ir e não ir, na vontade de ser livre. No não saber o que é ser livre. Não saber o que é – um não saber. Tem hora que eu penso ter medo do que não sei. Depois eu me lembro: o que me dá medo mesmo é ter certeza. Que a minha sede é de vida e eu nasci agora há pouco."


"Um homem tem morte súbita, dois meses antes do nascimento do seu único filho." E a dona dessas tão conflitantes experiências - viúva e mãe - expõe seus passos vacilantes num blog sincero e tocante.
Vale a pena conferir e aplaudir tanta força e coragem. É de embargar a voz, mesmo que ela não saia. E a vontade de seguir? Multiplica!

Inominável


E tem coisas que, por mais que a gente queira, e se esforce - se desdobre - não consegue esquecer...

O coração dói pela ferida mal fechada.
A respiração pesa pela cicatriz não planejada.
A solução, então, é fechar as portas pra balanço
- já que o peito não assimila com jeito o sentimento sem nome;
e se entregar inerte ao sono pesado,
pra encerrar e enterrar de vez
o mesmo olhar que insiste em se fazer insone.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 2 de julho de 2009

"Cada coisa tem um instante em que ela É. Eu quero me aproximar do É da coisa."

[Clarice Lispector]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

"Nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei. Ainda assim, escrevo."

[Mia Couto]

Rola, cabeça, rola...

Era dia do aniversário da filha do meu ex. E eu não queria ir até lá, apesar de ser absolutamente louca por ela, porque vai que a criatura resolve aparecer, e a minha presença causa um surto psicótico no ser? Melhor não arriscar... (Pois é, a história é longa, e além do mais não é sobre isso o post).
Saí feliz e contente com meu pequeno filhote a tiracolo pra ir até a esquina comprar cigarros. Peguei cinco reais, coloquei no bolso do short e bati a porta. Voltando, procuro as chaves pra abrir o portão. Cadê? Cadê? Cadêmeudeus??? Pânico generalizado. Eu e uma criança de cinco anos cheia de sono, na rua às 20:30h da noite de um dia de semana, trancados fora de casa. Ótimo! O celular, óoobvio, ficou em casa. E com ele, mais óoobvio ainda, a minha agenda de telefones.
Num lampejo, lembrei o telefone de quem? De quem? Da mãe da filha do meu ex. É, ela é minha amiga. Somos quase siamesas, na verdade. (Essa história então, meu bem, melhor te contar na mesa do bar, e numa sexta feira, pra poder render bastante). Ligo. A cobrar. Ela diz:
- Vem pra cá, não tem jeito.
- Tá, eu vou.
Fazer o quê? Dormir na calçada não vai rolar. Fui com o troco do cigarro, que dava exatamente o valor de uma passagem de ônibus. Nem pra bala. Cheguei, meu ex não tinha ido mas a mãe e o pai dele foram. E me olharam com uma cara de interrogação espanhola, manja? Mas caguei. Só precisava entrar em casa. Urgente! Liguei pra uns cinco chaveiros e, na mão do mais barato, morri em cinquenta reais, mais três reais de cada chave que copiei pra deixar na casa da minha-amiga-mãe-da-filha-do-meu-ex porque ela in-sis-tiu, caso eu resolvesse fazer essa gracinha de novo. A merda da chave estava do lado de dentro da porta. E ela, óoobvio, não abre por fora. Ninguém merece? Eu mereço.

Achou que acabou? Não, meu bem, todo castigo pra sequelado é pouco...

Uma semana depois... (talvez uns dias a mais ou a menos, mas isso não importa) me tranquei de novo. Há! Dessa vez sozinha. E com bolsa, celular, carteira e batom. Fui então - resignada - pra casa onde minha chave extra estaria cintilante e novinha em folha me esperando resgatá-la. Chegando, contei minha história triste de quem não perde a cabeça só-e-somente-só porque ela está grudada no corpo, etc e tal, e qual não foi minha surpresa ao ouvir, quando implorei pela chave:
-Ih! Sei onde tá não.
-Caraca, criatura, eu te avisei pra deixar em algum lugar visível, que você não pudesse soterrar com outras coisas, nem perder de vista!
-Pois é. Mas não sei onde tá não...
Calafrios. Juro.
Lá fui eu ligar pro chaveiro (o mesmo!). E morri em cinquenta reais mais uma vez. E tive que ouvir piada do filhodaputa - que podia ter me poupado desse chá quente de verdades cruas e nuas que ele me cuspiu na lata - e ainda por cima ficar com a maior cara de bunda. Porque dessa vez a chave também estava na porta. Mas do lado de fora. Ela ficou um dia in-tei-ri-nho pendurada ali, pra quem quisesse ou não quisesse ver. Nem quero pensar no que poderia ter acontecido, porque aí já é sofrer demais. Chibata. Só muita chibata mesmo.

PS: Depois desses dois dias ainda me tranquei mais umas três vezes. E isso deve ter bem menos de um ano. Tô pensando em abrir uma conta no chaveiro. Vai sair beeeem mais barato. Fato.

PS1: Resolvi escrever esse post porque hoje perdi meu cartão do banco. O de débito. O único que eu tenho. Me mato agora ou mais tarde?

Sylvia Araujo