Desde que vi montes de mãos se entrelaçando no papel, estava certa de que ia ter baile; e que, dali em diante, tinha perdido o controle. Abri o salão e elas, calçadas com os melhores sapatos, escorregavam leveza na madeira lustrada dos meus versos e prosas. Dali saíam frases inteiras e períodos marcados de muitos compassos, e eu - no meu descompasso - aturdida, deixei que me fossem envolvendo.
Hoje não rabisco mais linhas sem acompanhar o seu ritmo íntimo. Minhas letras, arrogantes, não bailam mais sem marcação. Elas pedem pausa e inclinação. E eu dou. Porque, no fundo, no fundo, é por elas que eu sou.
Sylvia Araujo
3 comentários:
Eu queria estar nesse baile - rsss.
Nunca antes alguém disse que fui inspiração... é uma sensação nova pra mim e, sinceramente, muito boa. Obrigado moça...
O baile não é fechado, não senhor. É só afastar as cadeiras e deixar a música invadir. De olhos fechados, no início, é mais fácil. Mas depois, nem de olhos é preciso. Ela te toma, te leva e fim.
Para que haja uma dança nem é preciso o canto, mas é necessário ter-se música, e eis que se nos aprofundarmos mais neste baile vamos descobrir que as palavras são música, e o dança é uma fantasia, igual aos tais golpes de visão que temos, ou aquelas sensações de déjà-vu que experimentamos quando, ao lermos aquilo que escrevemos, podemos jurar que o texto nunca nos pertenceu...
Não temas e não perca o controle, pois as palavras precisam de direcionamento, principalmente aquelas que teimam em nos deixar, e se derramam, e enchem o papel de tinta esferográfica. Esse é o princípio criador dos textos que nunca escrevi, mas que por existirem me causam a sensação do jamais vu!
O que são palavras, afinal, senão fragmentos de nossa pequena percepção e sujeitamento ao mundo das sensações que nos cerca ?
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