Foto do blog: Mario Lamoglia

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Dança

Ele um dia me disse que as minhas palavras dançavam. Eu já sabia, mas mantinha o segredo guardado, com medo de que elas pudessem me ouvir e perdessem o rumo dos passos. Letras descompassadas são como armas - das mais perigosas - destruidoras em massa. (É preciso cautela)
Desde que vi montes de mãos se entrelaçando no papel, estava certa de que ia ter baile; e que, dali em diante, tinha perdido o controle. Abri o salão e elas, calçadas com os melhores sapatos, escorregavam leveza na madeira lustrada dos meus versos e prosas. Dali saíam frases inteiras e períodos marcados de muitos compassos, e eu - no meu descompasso - aturdida, deixei que me fossem envolvendo.
Hoje não rabisco mais linhas sem acompanhar o seu ritmo íntimo. Minhas letras, arrogantes, não bailam mais sem marcação. Elas pedem pausa e inclinação. E eu dou. Porque, no fundo, no fundo, é por elas que eu sou.

Sylvia Araujo

3 comentários:

Marcio Cintra disse...

Eu queria estar nesse baile - rsss.
Nunca antes alguém disse que fui inspiração... é uma sensação nova pra mim e, sinceramente, muito boa. Obrigado moça...

Sylvia Araujo disse...

O baile não é fechado, não senhor. É só afastar as cadeiras e deixar a música invadir. De olhos fechados, no início, é mais fácil. Mas depois, nem de olhos é preciso. Ela te toma, te leva e fim.

Unknown disse...

Para que haja uma dança nem é preciso o canto, mas é necessário ter-se música, e eis que se nos aprofundarmos mais neste baile vamos descobrir que as palavras são música, e o dança é uma fantasia, igual aos tais golpes de visão que temos, ou aquelas sensações de déjà-vu que experimentamos quando, ao lermos aquilo que escrevemos, podemos jurar que o texto nunca nos pertenceu...

Não temas e não perca o controle, pois as palavras precisam de direcionamento, principalmente aquelas que teimam em nos deixar, e se derramam, e enchem o papel de tinta esferográfica. Esse é o princípio criador dos textos que nunca escrevi, mas que por existirem me causam a sensação do jamais vu!

O que são palavras, afinal, senão fragmentos de nossa pequena percepção e sujeitamento ao mundo das sensações que nos cerca ?