Tem dias que a solidão nem bate na porta. Arrebenta as trancas e arremessa as garras, destruindo tudo. Machuca, sufoca e aturde o coração sofrido, tão cheio de escrúpulos. Nesses dias de inverno-cinza-cortante, as melhores linhas - quando não se tem outra que remende o oco entupido do meio - são o papel e a tinta, que preenchem os vazios com letras doídas, encarceradas, imponentes - tão cheias de si...
Tem dias em que não me basto e, só, extenuo. Nesses dias de outono-laranja-quase-ocre, preciso precisar de alguém. Espero um laço cheio de cuidado, aquele abraço de cúmplice, aquele dividir o silêncio e as lágrimas, gordas de dor...
Às vezes me canso da força que tenho, das lutas que travo, das guerras que perco; e só quero os olhos que sabem e guardam pra si. (tudo o que sabem só pra si)
Por vezes eu morro. Por vezes me mato. Nesses às vezes, quase sempre, nada me consola a não ser o cuidado que tenho de nunca morrer de todo, de sempre voltar primavera. (das-mais-borbulhantes-entupidas-de-cores-e-aromas)
Sylvia Araujo
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