Foto do blog: Mario Lamoglia

terça-feira, 3 de junho de 2008

Quatro Estações

Tem dias que o coração chama a solidão e ela chega mansa, como uma dádiva, oferecendo calmaria de alto mar ao peito aflito, desarvorado. Nesses dias de verão-sol-à-pino, se aconchega em Gonzaguinha ou Elis, embebida em vinho branco, cheirando à incenso e paz. Até a fumaça, espiral subindo da pedra sabão, dança - bailarina manca-acinzentada - e afaga, amansa, me aninha...

Tem dias que a solidão nem bate na porta. Arrebenta as trancas e arremessa as garras, destruindo tudo. Machuca, sufoca e aturde o coração sofrido, tão cheio de escrúpulos. Nesses dias de inverno-cinza-cortante, as melhores linhas - quando não se tem outra que remende o oco entupido do meio - são o papel e a tinta, que preenchem os vazios com letras doídas, encarceradas, imponentes - tão cheias de si...

Tem dias em que não me basto e, só, extenuo. Nesses dias de outono-laranja-quase-ocre, preciso precisar de alguém. Espero um laço cheio de cuidado, aquele abraço de cúmplice, aquele dividir o silêncio e as lágrimas, gordas de dor...

Às vezes me canso da força que tenho, das lutas que travo, das guerras que perco; e só quero os olhos que sabem e guardam pra si. (tudo o que sabem só pra si)
Por vezes eu morro. Por vezes me mato. Nesses às vezes, quase sempre, nada me consola a não ser o cuidado que tenho de nunca morrer de todo, de sempre voltar primavera. (das-mais-borbulhantes-entupidas-de-cores-e-aromas)

Sylvia Araujo

Nenhum comentário: