Foto do blog: Mario Lamoglia

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Véu

Num repente, as janelas batem. Estremece com fúria a alvenaria do dentro. Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos. É curiosa a maneira como recobrem a retina e embaçam a visão - meio véu, meio teia - e me escurecem. Com a beleza do som do silêncio dos meus dias de chuva aprendi a ser noite. Quando em vez me embalam cantigas de morte. Sentimentos vazios, olhares perdidos - ando cheia deles. E mesmo que não haja vida nas palavras duras que me habitam hoje, ainda assim deixo que dancem. Escrevo porque a letra que me escorre aquece. Quando me toma pela mão e me arrasta insistente pra dentro das minhas entranhas, onde adormecido - por ora - mora o mais belo sol, me doura a alma. Com um sopro de brisa. E faz com que brotem as mais delicadas sementes, que planto sempre que em mim é primavera. A lágrima rega. E é por isso que eu chovo. Para que enraízem no terreno fértil do meu coração os cheiros mais doces e as mais belas cores que existem em viver. E é só por isso que eu vivo. Mesmo quando o breu do âmago faz revirar o dolorido estômago ulcerado eu sinto, e sinto tanto, que nada nesse mundo vai conseguir arrancar dos meus poros a resplandecência do azul inteiro de um céu de brigadeiro em pleno janeiro.
Ainda é abril.
Até lá, tro-vejo.

Sylvia Araujo

32 comentários:

Tatá R. da S. disse...

Se gosta de reinventar, ao menos um jeito único de transcrever a vida e os sentimentos você inventou. Um jeito só seu.
Lindo texto.
=*

Andrea de Godoy Neto disse...

Sylvia, eu nem vou dizer nada, porque o reconhecimento, no teu texto, me cala...

Beijos

ErikaH Azzevedo disse...

Mesmo noite este sol que vai dentro insiste em ti ficar...talvez seja falsa a noite, talvez seja ainda tão somente apenas um eclipse solar.

Q esta dor seja a cada dia leve e que seja bem breve esse teu pesar... e que o teu céu resplandesça no azul sem que seja preciso o janeiro chegar.

Um bjo de fã...q gosta de ler vc.

Erikah

Valéria Gomes disse...

Bela forma de descrever os sentimentos! Acabou de ensinar-me que devo regar as minhas sementes. Estava a tatear pela estrada escura do meu ser e o sol da tua vida, iluminou o caminho de volta.
Obrigada!

Terno abraço para ti!!!

Francineide Borges disse...

Tudo que escreves nos faz ver um filme em nossa mente, lindo com um repente.

Márcio Vandré disse...

Eu queria sementes para plantar no roçado do meu aconchego.
:)
Belo texto, moça!
Um beijo!

Simples de coração disse...

Gosto de ler coisas que me calam, que me fazem repensar já durante a leitura...de coisas poucas ditas e poucos sentidas...É isso que encontro nos seus textos. Às vezes fico até sem saber o que falar...Belíssimo texto!!

Beijos!!

Anônimo disse...

Ai ai Syl...

O que a gente faz depois que lê umas coisa dessas? Você fica aí a cometer primaveras e nós aqui, lavrando a terra dura do coração...

Beijo e tanto pra ti!

Érica Ferro disse...

Minha amiga Sylvia, que perfeição de texto!
Lindo, profundo, intenso... Ai, nem sei o que dizer. Fiquei boquiaberta de tamanha poesia, verdade e intensidade em palavras tão sábias.

Beijo.

LARISSA MIRANDA disse...

Estou simplesmente sem palavras pra descrever o que senti quando li. Parabéns, meu Deus, parabéns!
Beijos

Luna Sanchez disse...

Ah, que bonito! ^^

Eu também chovo e me rego, sempre.

Beijo, beijo.

ℓυηα

Ilaine disse...

Muito lindo! Um texto intenso e único. "Aqui a letra escorre e rega".
Bonito denais, Sylvia!

Marcantonio disse...

O que posso dizer senão repetir as impressões dos outros convivas? Você acertou a mão admiravelmente. Belo belo e intenso. "Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos",é uma imagem muito inspirada!

Um abraço.

Unknown disse...

Tro-vejas relampiando as palavras, fogo-fátuo. Abraço

Sonia Pallone disse...

As emoções que coleto aqui, sempre se alojam na parte mais sensivel de mim...Bjs querida, lindíssimo texto.

Sonia Schmorantz disse...

Este texto ficou um encanto!
beijo

A.S. disse...

Silvia,

O teu belissimo texto é um turbilhão de emoções! Liberta todas as sensações que aprisionas dentro do peito, deixa sair todas as palavras suspensas nos teus lábios, sobretudo evita o caminho das sombras, onde tudo se torna mais gélido. Deixa que o sol te envolva e renasça o fulgor e o brilho nos teus olhos!


Abraço!
AL

Priscila Rôde disse...

Lindo, difícil de comentar! Você escreve tão lindo, sinto tanto tudo que fico assim boba!

Um beijo querida!

Anônimo disse...

Eu tiraria tudo e deixaria só esta frase:
"Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos.

"Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos."

(invejinha branca, aqui. Queria ter escrito isso...)

Beijão, querida.

Anônimo disse...

Lindo texto Sylvia, sempre tão poético e intenso. Muito fortes suas palavras de tempestade. Ficou lindo esse trecho: A lágrima rega. E é por isso que eu chovo. Lindo porque em meio ao caos da tempestade ainda há a colorida esperança primaveril...

Beijos
Lìria

Flor de sal disse...

"Com a beleza do som do silêncio dos meus dias de chuva aprendi a ser noite".

Me identifico aqui, com essa frase, tantos dias me percebo noite... Tantas noites acordo sol.

Beijos florzinha!

Jorge Pimenta disse...

Se não há vida nas tuas palavras, sejam elas marcadas pela chuva ou pelo sol, peço clamor ou pelo silêncio, pela dureza ou pela doçura. Não, não são palavras... é a vida! És tu!

Um beijinho!

Ivan Bueno disse...

Sylvia,
Antes de mais nada, obrigado pela sua visita lá no meu Empirismo Vernacular. Por esta visita descobri seu blog e que texto denso, profundo, humano e fluente. Cala fundo. Metáforas ricas demais pra se comentar, simplesmente. É preciso ler mais, e é o que farei. Vou lendo e já estou seguindo.
Te convido pra seguir lá o Empirismo, também. Já é bem vinda.
Beijo grande,

Ivan Bueno
blog: Empirismo Vernacular
www.eng-ivanbueno.blogspot.com

Marina Cavalcante Lacerda disse...

"Escrevo porque a letra que me escorre aquece. Quando me toma pela mão e me arrasta insistente pra dentro das minhas entranhas, onde adormecido - por ora - mora o mais belo sol, me doura a alma. Com um sopro de brisa. E faz com que brotem as mais delicadas sementes, que planto sempre que em mim é primavera."

Caraaaamba :O Muuuito lindo Sylvia *___* Fico boba com tuas palavras, elas fluem perfeitamente. :)
Beijos floor!

Anônimo disse...

Postei umas coisinhas sua lá no blog!!
Tem uns dias já...
Olha lá nos marcadores ^^
Beijocas =*

Em@ disse...

os outros já disseram tudo...e eu deixo também um beijo.

♪ Sil disse...

Syl, tbm nem tenho o que falar.
O texto é tão lindo que as palavras me calam.
Tava com saudade de voce, espero que esteja bem da gripe!
Um abraço giganteeee!!!

Anônimo disse...

Na pinta!
Quando eu me li, também lembrei do Manu na hora...

Unknown disse...

Tuas palavras deslizam como orvalho em flor, desenhando nas pétalas as mais sublimes imagens.

Obrigada pelo comentário, querida! :)

Beijinhos,
Ane

Anônimo disse...

Uma das prosas poéticas que mais me tocaram. Lindo!

Beijo.

Isis disse...

Adorei o texto! Já tava sentindo falta de dar uma passadinha aqui!
beijos

Cecília disse...

Sylvia!! coisa mais linda e emocionante que é este seu lugar. Quanta força e delicadesa nas palavras.. parabéns.
Virei fã. Vou colocar um pedacinho seu lá no meu blog. Beijo no seu coração!