Ele veio despretensioso. Chegou aos tropeços, estabanado, esbaforido. Tinha um sorriso tão límpido que me afastou. Não sou muito adepta aos espelhos, e como me via em seus olhos sempre que eles me alcançavam a fronte, paralisei.
Aos poucos, fui percebendo que perceber a si próprio é sempre o mais importante e que, olhando pra aquele ser humano tão cheio de medos e de amor, eu tinha a mim mesma o mais perto que consegui estar, durante todos esses anos de abundantes reflexões. Se encontrar e se ver faz parte de um processo de cura que arde e queima absurdamente. Mas resolvi que quero estar aqui, ali, com ele e comigo. Independente da intensidade da dor, serei eu enfim. Me sinto liberta e isso me basta.
Talvez eu tenha, pela primeira vez na vida, me apaixonado por mim mesma. Não é avassalador, mas sutil e sereno. Aquela garota refletida na íris de alguém tão especial me despertou bons sentimentos, daqueles que você se sente bem só em sentir.
Decidi aceitar o auto-elogio, sem a insistente mania de virar as costas e esquecer tudo o que ouvi.
Talvez eu seja mesmo boa, uma boa garota. Talvez eu seja mesmo como ele, especial, iluminada... Depois que ele chegou, mesmo sem tê-lo, o mundo ficou menos opressor; vejo meu sorriso mais leve, minha dor mais amena...
É bom ter com quem dividir o amor, mesmo que o outro não saiba. Mas não faz mal, já que o que realmente importa é que, pela primeira vez, em toda a minha vida, o espelho me salvou.
Sylvia Araujo
2 comentários:
ai que amor gostoso de sentir, de existir.....
Quero dois para mim, igualzinho assim!
Beijo beijo
O melhor amor é sempre o amor próprio... ;o)
E viva o espelho! Iupi!
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