Foto do blog: Mario Lamoglia

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Almíscar



Numa noite quente de um Rio de Janeiro abafado e úmido, chegou como sopro de brisa fresca. Trajava roupas fluídas, muito claras - quase ofuscantes. O tecido transparente bailava no meio da pista lotada e ditava o ritmo da música. Aos poucos, seu magnetismo atraía os olhares incrédulos. Não era possível enxergar seu rosto, mas era fácil decifrar sua expressão. Ela sorria.
Com os braços abertos girando em torno do tronco - em movimentos de ondas - espalhava um perfume almiscarado, criando uma atmosfera em suspenso. Os corações pulsavam em um mesmo compasso - o que seus pés descalços marcavam no chão. Não se viam seus olhos, mas todos sabiam que estavam cerrados, ávidos pela energia que jorrava de dentro. Um a um - deixando de lado suas falsas histórias - os sorrisos foram nascendo, os cílios fechando, os braços se abrindo e os corpos rodopiando...
No auge do transe ela se foi, evaporando sutil em seu corpo de vento. Seus respingos de vida - cheirando a almíscar - pairavam agora entre as vagas que brotavam dos braços ondulantes, e beijavam cada lágrima liberta que escorria.
Ela sorria.
Mas dessa vez, de olhos e alma escancarados.
Sylvia Araujo 

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