Nunca na vida imaginei que cortar radicalmente os cabelos pudesse fazer tão bem pra alma: há anos carrego nos ombros a mesma cara e a mesma história cansadas de guerra. Olhava no espelho sem a menor preocupação de me enxergar, porque sempre estive ali: imutável, intacta, idêntica - todos os dias.
Já faz algum tempo que ando me esforçando por mudar de ares, por transformar meus lares; e hoje eu sei - tenho a certeza - de que o que desejo ad eternum são novas cores, novos gostos, novas paisagens, novos cheiros... quero uma irreconhecível eu-mesma pra desbravar o sem-fim de tantas outras impressões e imagens que me tocam sem parar; quero é um inconstante reflexo - naquele mesmo velho-exausto-espelho-estanque - pra encurralar meus medos e mastigar meus dias.
Parece que, junto com os muitos centímetros de madeixas, deixei o estático-estético pra trás. E que ele vá. E não volte nunca - porque palpito, da revolução de meter a lâmina nos cabelos, àquela capaz de neutralizar todos os meus excessos: do viver, do fazer, do sentir; pra me materializar minuto a minuto em uma outra - sempre viva e incansavelmente incansável - mutante sagrada de mim.
Sylvia Araujo
2 comentários:
Pra variar, PER-FEI-TA! Adorei a ligação do texto com o título. Sutil, subjetivo, espetacular!
Como me orgulho de você!
Mutante sagrada de si em mim!
TE AMO
Ahhh, quanta honra! rs
Já tava ficando com sintoma de nunca ouvir suas vozes por aqui!
Te amo taaaaanto que nem cabe. Vc sabe!
Postar um comentário