Foto do blog: Mario Lamoglia

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Hábito

Tá doendo.
Tá doendo muito.
Tá doendo tanto, que nem sei se é dor ou se é dormência.
E eu deixo doer.
Deixo doer com algum prazer, até...
Já me disseram que é masoquismo gostar de latejar.
Eu adoro... Extasio...
Virou hábito me deixar chover em dia de tempestade.
(Não gosto tanto do Merthiolate, porque hoje ele já não arde
- Só o que arde, cura.
Só o que queima, cicatriza)
O prazer que sinto na dor talvez não seja por ela em si.
Talvez seja pela certeza de que - por causa dela -
re-vivo mais forte.
Talvez seja pela vontade de desmoronar
- pra me reconstruir depois, em um voltar a ser.
Dia após dia.
Dor após dor - eu sigo.

Tá doendo.
Tá doendo muito.
Tá doendo tanto que dessa vez volto inflamada
- ainda melhor.
Deixo doer com prazer, até...
Até o pranto findar.
Até eu me recompor
- E voltar a brilhar.
Eu volto.
Eu sempre volto.
Virou hábito me deixar raiar em dia de primavera.

Sylvia Araujo

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