Foto do blog: Mario Lamoglia

sábado, 26 de março de 2011

Duro poema cru

Outoneço. Desverdeada, busco insana um porto onde espreguiçar o olhar - esse olhar que hoje me esparrama tristezas que até as palavras ir-reconhecem. De dentro, vem em golfos lava fervente que me escorre, abrupta. É súbita a destemperança que reveste de escureza esse tão cheio vazio que me carcome as tripas: é urgente o nada a dizer. Portanto, nada digo para que não se gaste o gesto - escoo em tortuoso e duro poema cru, o medo. Sozinho-me em desbotados instantes meus e anoiteço letra - ela há de empacotar com cuidado os miúdos haveres, há de dar fim ao que não se presta a ser sol.  No espelho trincado, aquela mesma conhecida imagem nuveada, cinza. Na ponta dos dedos, a desesperada poderosa transpiração dolorida dos enlouquecidos de amor. Ajeito, então, uma vaidade qualquer no corpo ainda rígido e sigo. Porque, do coração, já me escapuliram há tempos as rédeas das mãos.

Sylvia Araujo

5 comentários:

dansesurlamerde disse...

lindo.
doído, mas lindo.

beijo.

marden disse...

bonito!

Andrea de Godoy Neto disse...

Sylvia, que saudades eu estava de ti, guria! andei um pouco sumida, às vezes acontece quando me perco por dentro e cá fora não há nada que me chame de volta...rs

sempre bom demais te ler, Esse poema é lindo, outonal, de coração perdendo as folhas.

um beijo enorme

Moni Saraiva disse...

Quem se atreve a querer segurar-se dos ventos do outono?

Lindo, querida...
saudades daqui!

beijo, beijo!

Moni

Eu disse...

Outoneço e enterneço ao ler as suas palavras!

Que os bons ventos tragam novas brisas que toquem o seu coração.

Gostei muito do seu blog...

Um abraço carinhoso