Às vezes gasta, bruto remendo, partida, despedaçada, exausta, manca. Às
vezes só suspiro fraco em meio a tanta distorção, pavões em transe, dor
lancinante, susto, choro ou privação. Às vezes, um tímido talvez ou puro
e cristalino não (às vezes sonho, asa, raiz, às vezes tudo ou nada,
casa, às vezes chão). Mas tão resistente e plena por saber de si ser
dona inteira que, mesmo pouco vistadmirada, brota, sem se cansar de ser,
a poesia, o que a esperança desesperançada sempre e sempre cria: nos
meus olhos, pó transmutado em companhia, nesse aqui cansado coração,
denso orvalho úmido, pão.
Sylvia Araujo