Quem ousasse aproximar-se - palmos diante desse teu invisível jorro de escuro - veria mais que o tal oceano simétrico que insiste em fazer arder, numa insana teima recorrente de horizontes:
(assim, prenhe de nãos, tua imagem exausta a lubrificar cuidadosa os vagos dias e auscultar silenciosa as dobradiças das noites infindas - a respiração entrecortada aguardando em profunda aceitação a lufada de ar puro que nunca vem)
ninguém.
Quem chegasse muito perto - os pés tocando a margem desse teu profundo rio de entulhos - veria muito mais que as tais janelas cobertas de heras que insiste em abrir aos pares, numa obsessão descabida de quem rasga sóis com os dentes:
(assim, banhada de antigos véus, as ranhuras fundas a recenderem incontáveis medos, a loucura cega a te dilatar as veias secas, essa tua máquina muito gasta em ponto de eterna estafa, o labirinto fundo que te entontece e afoga nesse sem fim além)
mais,
ninguém.
Sylvia Araujo