Nossas mãos se abraçaram. Apertado, feito menino com medo de escuro - não me envergonho. Aqueles cabelos compridos - fatia de franja beijando a bochecha com displicência - acalmavam meus nervos. Nunca na vida provei boca tão doce, mesmo quando cuspia impropérios. Ela era eloquente. E dia claro - soluço raro nas minhas noites insones. Seu olhar me entorpecia inteiro quando vinha lânguido, cheio de braços a me engolir. E o meu olhar suspirava por ela. Todas as manhãs eu derretia. Tinha dias acordava espinhos, e mesmo enraivecida cheirava a rosas - que tipo de magia ou encantamento tinha emanando pelos poros ou vertendo por entre as pernas, eu não sei. Só sei que eu era dela. Inteiro dela, enquanto me quisesse ao meio. Acontece que Marina era tanto - e tão tudo de uma vez só - que metade era muito pouco pr´aliança de eternidade. E derramamos lágrimas no fazer das malas, e dobramos juntos as meias brancas, e enchemos a cara de vinho tinto antes de fumar, cúmplices e esvaziados, aquele último baseado. No aeroporto - seu all star vermelho roçando de leve as minhas havaianas sujas, suas mãos suadas mastigando os meus dedos frios, eu indo pra perto e ela pra longe de mim - eu tive a absoluta certeza de todas as nossas incertezas. E desse momento em diante, a ausência dela choveu tanto dentro de mim, que o meu coração borrou.
Sylvia Araujo
PS: Poeta de mão cheia - das pequenezas que se sabem inteiras - Geraldo Barros, do lindíssimo Sem Catraca, empresta seu verso-chuva às minhas letras. O link, como sempre, borboleteando lá em cima.
31 comentários:
Cara, que lindo, lindo, lindo, e o fechamento do G. foi perfeito!!
Grande beijo na madrugada!!!
Sylvia,
Estou aqui extasiada!
Sua forma de construir frases com imagens que se encandeiam entre jogos de linguagem é dos estilos mais originais que já li na blogosfera.
Que texto!
Que análise do cotidiano com arremate emocional!
E o enredo... faz-nos suspensos, parados no mesmo ar que nos golpeia a garganta em nó.
Beijos.
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Katyuscia
Maria Marina, e assim vou conhecendo suas mulheres com palavras suadas de licor rsrsrs.... ;será q rimou, seu blog é uma delícia.
ns
Sylvia, estrondosamente lindo o poema.
Marina, menina, mar que rima com amar.
Encher a cara de vinho tinto antes de fumar...fumar antes de ler...Muito bom!!!Parabéns!
E 'sintaXe' à vontade nas entrelínguas!
O meu coração na hora da partida borrou. E com isso, faz um que não sei o que é beijar na boca. O seu texto tem tudo a ver comigo.
Parabéns!
A cada vez que venho aqui
gosto mais...
menina Syl, ficou lindo esse texto, fiquei aqui todo sem jeito com essa surpresa, agora somos parceirinhos e adorei essa parceria ;)
beijos, querida,
Ge.
Gostei tanto, tanto que li e repeti. Agora levo gravado em minha memória.
Beijocas!!!
Vc escreve de forma muito delicada e lírica, Sylvia, combinou muito com o escrito do grande poeta Geraldo.
Beijos, moça.
Essa saudade que se arrasta pelo chão, se empregna nas paredes e desmancha como chuva de ausência também se faz minha companheira. E assim seguimos de ausência em ausência, porque os bons ventos sempre vêm.
Grande beijo.
Que lindo isso, essa intensa entrega a alguém, sentimento de completude... O ideal é que os dois se sintam assim... Apesar da separação entre os dois o seu texto ficou tão lírico e tão leve que não deixou sentimentos ruins, sabe como um desconforto... E a citação caiu perfeitamente.
Ahhh Leite Derramado é um livro do Chico.
Beijocas
Líria
Que intensidade...
Bela construção
abraço
Cacilda! Que saudade dos seus textos, querida!
E quando chego aqui, me deparo com essa coisa linda de texto, complexa, inquietante, com cheiro de paixão que se foi, mas ficou grudada numa parte da mente.
Beijo.
você me deixa um 'puta que pariu' de presente e eu vejo aqui uma puta escrita parindo mundos palpáveis.
o cabelo beijando a bochecha;
os braços engolindo pessoas;
tudo isso pulou da tela e estalou na pele.
putas que pariram, que continuemos a parir mundos. nós, as putas das palavras.
=*
PS: tamanha felicidade do encontro!
e agora acabei de ver a citação de 'alma'. bem, conseguiu!
=)
Quanta delicadeza, moça: na visita lá no Bicho; nos sonhos que você desenha por aqui; nas metáforas urbanas que brincam com o texto interno da gente.
Honra! Alegria! Agradecimento!
Lindo aqui, virei sempre e vou te colocar lá nos meus favoritos tá?
Como dizemos pelas bandas de cá, um cheiro!
S.
Tão bonitas as suas palavras.
Tão leves que até o coração de quem lê fica borrado.
Um beijo, moça!
Obrigada pela visita no meu blog. Li vários posts seus nos dois blogs, e gostei muito. Gostei de conhecer seus escritos. Vc escreve de um jeito delicado, simples, e que me toca a alma.
E o coração da gente, sempre borra. Mas como diz Caio F., natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. Difícil é manter-se inteiro em cada pedaço de caminho...
Abraço, e obrigada por me proporcionar a chance de conhecer seus blogs. Adorei mesmo!
Bravo, Sylvia! Estou seguindo seu blog. Voltarei aqui mais! Beijo. http://fabiocezar.blogspot.com
Sylvia,
muito grata por suas palavras e observações tão simpáticas. A gente escreve, se expõe, as vezes esquece que somos lidos, né?
Brigada, de verdade.
Volte sempre,
que eu cá sempre estarei também.
Beijoca
Sempre chove em mim, mesmo quando não chove.
muito bom o texto, muito bom...
Belo blog. gostei daqui.
Maurizio
Posso falar? Adorei.
Meniiiina! Como vc escreve bem.
Que tal ir conhecer meu blog e tomar um chocolate comigo? Quem sabe vc goste de mim e do bog e resolva me seguir também?
Seria muito bom. To te esperando.
Beijos.
Seguindooo...
Parceria mais que perfeita,parabéns pela leveza e beleza do texto aos autores. Abraços, Sylvia.
Intenso!
Parabéns pelo texto!
sem palavras pra elogia-lo.
:)
Sylvia,
Isto não é um borrão, é uma pintura feita de palavras. Uma fluência intensa, confessional, denso e leve, pesado e suave, doído e cálido, tudo junto. Muito bom, moça.
Beijo grande.
Ivan Bueno
blog: Empirismo Vernacular
www.eng-ivanbueno.blogspot.com
eu adoro essas palavras que dançam enquanto leio. Tu escreve palavras bailarinas, sabia?
o verso de Geraldo é uma pintura mesmo
beijocas muitas
Êeee! até que enfim resolveu! Oba!!!
Olá
Muito obrigada por tão generosas palavras, por teu carinho lá no meu blog...
Experiencias, servem sim para que possamos aprender e compartilhar com o outros os desafios que a vida no oferece.
Obrigada por me ler...
Espero que possa estar lá mais vezes...
Vou aqui também conhecer sua casa!
Bjs
"E desse momento em diante, a ausência dela choveu tanto dentro de mim, que o meu coração borrou."
o pior de tudo é que as manchas no coração não são passíveis de remoção...
p.s. ainda bem que resolveste os problemas com o teu computador e que estás de regresso sem constrangimentos. ler-te é um tónico!
E talvez sejam esses pingos de chuva - de presenças e ausências- que fazem tornar mais belo e colorido um coração. Uma cor com pingo de chuva vira outra composição. E assim, seguimos a compor essa abstração de cores vivas em borrões que é a vida. Sem formas, sem fôrmas, sem definições.
Você escreve a beleza!
Mary Pereira
www.fotografandopensamentos.blogspot.com
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