Foto do blog: Mario Lamoglia

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Por outras letras...

"Hoje vou procurar a palavra que se perdeu, que escapuliu entre meus dedos, que escorreu por minhas mãos. Eu hoje vou conter nas letras esse fluxo que não pára de me levar pra longe daqui. Eu hoje vou ficar aqui quieta, enquanto frases se formam, enquanto parágrafos inteiros se fixam na tela. Alguns fogem. E eu deixo que fujam porque sei que posso recuperá-los, melhores, adiante. Não me desespero mais. Encontrei o leito por onde escoar o meu excesso."

Clarah Averbuck


Pra quem tá muda, ela disse tudo. Eu tô meio assim, em suspenso. Eu tô meio assim, sem cadência. Eu tô meio assim, sem saber; sem saber de nada - nem tampouco o que fazer de mim... mas não desespero mais! E tenho dito!
Então, Dona Clarah, obrigadim!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ser Pessoa

"Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma...
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... "

Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Recomeço é não ter medo de virar do avesso.

Sylvia Araujo

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Estupefata

Caráter, respeito e pudor não se compram no bar da esquina, não senhor!
Nem com trinta mil euros;
Nem com cinquenta mil francos!
Pra algumas coisas existe Mastercard; mas as melhores - e mais importantes - não têm preço...

Sylvia Araujo

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Coisa boa coisa

Coisa boa é sol à pino,
Sorvete de pistache,
Tinta nas mãos...
Coisa boa é mágica!
Chá quentinho
E cobertor,
Drama clássico,
Chocolate.
Ai, coisa boa que é sorriso...
Jardim Botânico,
Paineiras,
Parque Laje,
De bondinho, coisa boa,
Arcos da Lapa - Santa Teresa!
Coisa mais que boa abraço é.
E beijo,
E toque,
E morango,
E kiwi!
Ai que delícia que é música na rede,
Criança correndo,
Amigos por perto,
Uma tijela enorme de açaí!
Boa coisa é sentimento grande,
É a vida imensa.
É tomar um vinho,
Trocar idéias,
Cantarolar baixinho.
Delícia mesmo é piquenique,
Aninhar um gato,
Dançar na chuva,
Correr na rua,
Andar descalço.
Mas boa, boa mesmo é o amor, que faz tudo que se faz ser coisa mais que boa!

Sylvia Araujo

Foco



- tenho medo.

- todo mundo tem medo todo mundo tem sonhos pra chegar nos sonhos é preciso entrar pelas portas que se abrem pra você você acha que as pessoas são cem por cento felizes você acha que exista no mundo alguém completamente realizado claro que não felicidade é momento e é preciso abraçar as oportunidades que a vida te oferece pra que você caminhe saia do lugar estagnação não vai te levar a lugar nenhum precisa ter foco ter direção saber o que quer e onde quer chegar.

- eu não tenho foco isso é fato.

- não dá pra viver de ideologias a sociedade é essa vivemos num mundo capitalista e ele se impõe infelizmente não dá pra viver de paz e amor é preciso caminhar ganhar dinheiro comprar as coisas você não é sozinha não pode ficar imaginando uma realidade que não existe é impossível ser feliz por completo então ouse se atire siga aproveite as chances não paralise não emudeça.

- eu não consigo.

- você vai ficar esperando ser mandada embora pra ter que se virar e correr atrás de outra coisa você vai continuar acomodada em uma situação que não vai te levar a lugar nenhum não pode esperar que as coisas mudem e seus desejos se realizem se você não se mexer!

- eu sei você tem razão ainda bem que alguém aqui tem foco sabe ganhar dinheiro e não tem medo de arriscar porque eu prefiro continuar sonhando e isso é pano pra análise tenho consciência mas não consigo pular em um trampolim que não seja obrigada a pular.

- se isso funciona pra você...

- tenho medo.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Em lugar nenhum

Não sei como, porque, nem quando, me perdi. Não me acho nas flores, na lama, nem no gosto. Não me vejo em mim. Não sei por onde andei. O fato é que me desencontrei nos tantos caminhos e atalhos; nos tantos buracos e afins - e fins. E por tantos lugares passei, por tantos medos viajei, que talvez um deles me tenha tomado pra si. Sem minha autorização, me enfiou num saco e me levou daqui.
Não sei como-porque-quando-ou-onde me perdi. E não me acho, por mais que cate, por mais que chute, por mais que berre. Parece que fiquei surda. E muda. E invisível. As palavras são as únicas que parecem nunca desistir. Mas nem nelas me encontro. Cuspo com força o que passa dentro, pra ver se em algum ponto me enxergo. Mas nada; mas tudo. Mais desesperadamente imundo é esse chão que abre.
Não sei o que houve. Só sei que o espelho gargalha. Eu também não estou lá. Eu também não estou aqui. Eu também não.

Sylvia Araujo

Óbvio


Manoelando eu desinvento as dores.
Elas são tão pequenas perto da ausência de charcos pra caracóis, que desaborreço.
Não me faltam paredes. Me esvaziam é lagartixas!
Talvez se eu fosse um prego torto, caco de vidro ou lasca de pedra,
Talvez assim, e só assim, as árvores me brotassem.
A imaginação, pois, é fruta.
E o desencanto, encantamento.
Nos quatro cantos, não há quem me desfaça do nada.
Prefiro hoje o nada, no lugar do tudo que me desorienta.
Manoelando, percebi que o ínfimo é glória!
A complexidade caiu em desuso, agora.
No meu mundo eu vou é pintar violetas, pra ter - em eterno - beija-flores por perto...
Eu vou é desofrer em rios; desacostumar o cio.
Eu vou é desenraizar!

Sylvia Araujo

Bem-te-vislumbro, Manoel de Barros.

"Tudo que não invento é falso."

"Tem mais presença em mim o que me falta."

"Sou muito preparado de conflitos."

"Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou."

"Meu avesso é mais visível que um poste."

"Não saio de dentro de mim nem pra pescar."

"Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore."

"Eu queria ser lido pelas pedras."

"Aonde eu não estou as palavras me acham."

"Melhor pra chegar a nada é descobrir a verdade."

"O branco me corrompe."

"Não gosto de palavra acostumada."

"Do lugar onde estou já fui embora."


Manoel de Barros, em Livro Sobre Nada.

Manoelando

O Palhaço

"Gostava só de lixeiros crianças e árvores
Arrastava na rua por uma corda uma estrela suja.
Vinha pingando oceano!
Todo estragado de azul."


Passeio nº 6

"Casebres em ruínas
muros
escalavrados...
E a lesma - na sua liberdade de ir nua
úmida!"

Manoel de Barros, em Matéria de Poesia.

Manoelando I

"Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:

a- Esfregar pedras na paisagem.

b- Perder a inteligência das coisas para vê-las. (Colhida em Rimbaud)

c- Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.

d- Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.

e- Perguntar distraído: - O que há de você na água?

f- Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua. Por isso as crianças e as putas do jardim o entendiam.

g- Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de olho, moscas de pensão...

h- Aprender a capinar com enxada cega.

i- Nos dias de lazer, compor um muro podre para os caramujos.

j- Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam carrear para o poema um gosto de chão - como cabelos desfeitos no chão - ou como bule de Braque - áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro da terra, carvão de folhas.

l - Jogar pedrinhas nim moscas..."

Manoel de Barros, em Matéria de Poesia.

Manoelando II

"Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim."

Manoel de Barros, em Livro Sobre Nada.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Oh, céus...

"Só sei que nada sei."

Confusão da porra...