Engoliu o gesto ávido com pressa - o coração enxovalhado gritando o atalho que não deveria seguir. Um desconhecido e frio suor sulcava riachos, escorrendo em volúpia pelas mãos trêmulas. Na garganta, emparedada, uma estranha sensação de reconhecimento e intimidade formigava. Não é possível - pensou. Os olhos negros giravam nas órbitas durante o dolorido e profundo suspiro, que inchava lento e pausado a caixa toráxica lotada de impotências. Os dedos largos quase arrancando furiosos os fios ondulados e escuros sobre a testa. As pernas compridas, frenéticas em espasmos, entonteciam, escorraçando o desejo latente. Não é possível - grunhiu. Cerrou os dentes, disposta a assustar os fantasmas. Não se permitiria exacerbar em seu mundo tão concreto e passível. Não se disporia a sonhar - que de sonhos já havia morrido demais. Fechou os olhos na intenção de negar os próximos passos, mas instintivamente estendeu os braços, enquanto o vento morno e suave atravessava as cortinas fluídas e lhe acariciava sutil o pescoço esguio. Sentiu o beijo, o toque, o sexo úmido. E aquela presença maciça a dedilhar profundo seus mais inalcançáveis segredos. Num rompante, cravando as unhas afiadas no dorso largo e viril do impossível, gemeu.
Sylvia Araujo
7 comentários:
Fotografias úmidas de febre, não resistem e bebem seu próprio naufrágio.
Vou falar o que mais pra você bonita?
Aplausos!
Sensibilidade é a palavra. Belo post.
"Não se disporia a sonhar - que de sonhos já havia morrido demais."
Adorei o desfecho!
Sublime!
Beijos
Álly
Foda!!
ê mulher prá escrever bonito!!!
Moça, tava com saudade de passar por aqui, e que texto! Deus do céu, você escreve demais!!!!
bjs
Sylvia, tava com saudades daqui!!!
minha nossa, teus textos cada vez mais falam à minha pele!
beijocas muitas!!!
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