Tela de Portinari
Pra ver Mateus feliz, basta um sonho. De padaria mesmo - doce de leite caseiro escorrendo pela fenda funda açucarada. Seus olhos grandes cintilam com o papel manteiga e a primeira coisa que faz quando recebe o embrulho nas mãos é abri-lo com toda a delicadeza e lamber com gosto o doce grudado na folha branca. A saliva escorre.
Pra ver Mateus feliz, basta um gato. Vira-lata mesmo - uma paleta inteira no pelo curto e um rabo grosso de espanador. Suas mãos pequenas afundam no pescoço magro do bichano dócil e não se sabe ao certo quem é que ronrona baixinho - o acarinhado ou o acarinhador. Seu colo estreito vira cama quente e sua voz pequena cantiga de ninar. O coração aquieta.
Pra ver Mateus feliz, basta uma pipa. Preta e branca mesmo - rabiola farta de jornal de ontem e carretel inteiro de linha vermelho-vivo. Suas pernas finas correm pela rua mansa, braço esticado e boca seca, testa franzida em concentração. Domingo é dia de dançar com o vento. A tarde toda é festa no céu - pintado inteiro, arco-íris alado. O olhar estreita.
Pra ver Mateus feliz, basta uma folha. Caída mesmo - pedaço seco despencado ao chão e carregado das histórias do céu. Seus dedos ágeis imprimem vida ao pedaço morto; um assopro e o marrom dourado se transforma em ave e voa de volta até o alto da árvore. Sua intenção não é que ela renasça, mas que vire ninho - casa de folha pra passarinho. O sorriso dança.
Pra ver Mateus feliz, basta o tudo. Cheio de nada mesmo - pra poder enchê-lo do que quiser. E não cabe carro, nem apartamento porque as asas da sua imaginação ocupam todo o espaço do coração. E o que sobra é mesmo só para o amor, que sempre dá um jeito de se espremer entre uma rosa e um bocado misturado de cor.
Sylvia Araujo
24 comentários:
Que lindo moça! Adorei, tiro Mateus coloco meu nome e pronto. Tudo bem que não sou muito boa com pipas, mas todo o resto me enche o coração!
Lindo domingo pra você!
Beijo grande
Sylvia seria igualzinha ao Mateus? :D
Belíssimo texto...
Beijos!
Silvinha, a simplicidade do sonhar é o que mais me encanta em determinados seres. A arte de voar não é para todos e por essa razão, fico feliz e satisfeita, como o Mateus, quando descubro alguém que o sabe fazer. Você sabe voar e como as gaivotas, tem a liberdade incrustada nas asas.
Beijos de passarinho!!!
Se depender de mim o Mateus será feliz sempre rs.
Beijokas e um lindo domingo.
A simplicidade de um sorriso é a dança com o infinito...
agradecido pelas visitas ao Rembrandt
abraço
"uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma", ou a apologia das coisas pequenas e simples.
nos teus textos consegues tocar as profundezas do coração humano com pinceladas leves e delicadas.
um beijinho, sylvia!
E é a linha da pipa que Mateus usa para subir aos céus e chegar bem pertinho das mãos de DEUS...
Beijos Sylvia!
Nossa, que texto lindo é esse!!! Parabéns. Tem texto do Euclides no Sub Mundos, e a Consciência dele achou necessário também fazer escritos regulares para confidenciar coisas dele que só ela sabe. Bjus.
http://submundosemmim.blogspot.com
http://conscienciadeeuclides.blogspot.com
Esse texto me faz feliz também!Lindo!
Bjos!
Sylvia,
Vinha dizer que vibrei com teu comentário na Kanauã Kaluanã.
Tem resposta lá...
Mas chego aqui e vejo Mateus!
Impossível não me encantar com o que basta...
Fico à espera da tua permissão, claro, se não te incomodares, para postar este texto no meu blog "Dialogando com o Belo", que criei em homenagem a um projeto na escola onde trabalhava no Brasil, de incentivo à leitura e à descoberta do belo pela poesia.
Sei que os ex-alunos que passam por lá iriam ficar encantados com o teu Mateus!
Um beijo, e continua a escrever coisas assim. Faz um bem danado!
;)
Katyuscia
Que lindo texto, tão leve e singelo. Bom encontrar beleza na simplicidade das coisas, Mateus está certo. Que as asas da imaginação carreguem o coração dele para todos esses momentos felizes.
Lindo.
Beijoca Líria
Sylvia,
Que crônica deliciosa de se ler, de reviver a simplicidade das crianças, quando a felicidade e o mundo não estão em choque. Essa crônica tem sabor de sonho, e com recheio escorrendo muito.
Beijo grande.
Ivan Bueno
blog: Empirismo Vernacular
www.eng-ivanbueno.blogspot.com
Syl:
como eu gostava de conhecer o Mateus...
Gostei muito do teu texto.
"uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma" que o Jorge salientou no comentário dele,e muito bem, é o título de um livro da Irene Lisboa.
ela foi uma professora primária e eu gosto muito de lê-la... tenho a certeza que tu também, se é que não a conheces.
bela imagem. belo texto.
o sorriso dança.
gostei do jeitinho que separou seus marcadores :))
beijos moça.
Eu quero uma cereja caramelada =)
Acabei de indicar seu blog ao blog da semana lá no Costurando!
Um beijo =*
Sylvia... me fez feliz. :) beijo
Devíamos todos ser "Mateus". Seria bem mais fácil, não é? =)
Beijos.
Sylvia, abri imenso sorriso ao ver mateus feliz!!!
é que, por dentro, sou cheinha desses meninos e meninas que andam por aí, a ser feliz na vida...simples assim
lindo, lindo texto!
beijocas muitas
Oi Sylvia, que texto lindo e emocionante, podemos viajar através dos quadros que você pinta em cada verso, dá para sentir a infância percorrer nossas veias.Parabéns.Arnoldo Pimentel
sUpImPa*
tira o MATEUS e ponho o nome de meu filho Fernando e pronto :)
liindo liindo
Oi, Sylvia! Que lindo!
Eu também tenho um Mateus aqui em casa. "Para ver Mateus feliz, basta um sonho."Beijo
Palavras que tocam,que mexem com o eu daqueles que possuem um eu inquieto,um eu com gana de sentimentos e sensações.
Prazer em fazer parte de um pedaço de seu blog.espero tê-la no meu singelo blog tb.abraços!
Simplismente lindo!
Lindo Mesmo!
Abraços Imundos!
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