Foto do blog: Mario Lamoglia

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Pretendo. Que talvez pretender seja uma forma de levar adiante a ruptura do ocaso, o susto do berro árido inexistente. A lâmpada acesa, incandescente, brilha nítida e apaga o sono. Desligo. Acendo a vela em ascensão, pavio incólume, e queimo. Um silêncio preenchido, um plano em intenção pulsa denso na fumaça abafada do incenso. Escuto. O fio tênue, transparência nua, me mantém intacta e me conecta, novelo de muitas pontas, em sincronia sutil - inspiro. Não há dedos que me despedacem o véu enquanto caminhar desconstrução descalça. No embaçado do espelho, expiro, um eu que não se basta sou eu - rua larga e deserta, povoada dos muitos invisíveis que me carregam nos braços até o topo claro da montanha alta. Chegando lá, mil horizontes. E o acerto de contas dos últimos tombos, a lei inexorável, o retorno. No fundo dos olhos e no peito, os pés - e o próximo passo, logo ali adiante.

Sylvia Araujo