Foto do blog: Mario Lamoglia

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Súbito azul

E sobre a lucidez perene dos galhos, por entre as folhas verdes-modorrentas,  eu vi se esparramar exangue o  azul do dia - como se não soubesse que o seu fardo (por mais que pareça injusto, soturno e pesado) é ser vivido farto-inteiro, sem nunca, jamais, ter sido esperado.

Viver é feito de repentes.
Sylvia Araujo

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


Eu só sei saber o que não se sabe: o desabrigo da pele, o descaso dos olhos, seu coturno - imundo - a esmagar as flores sem nenhum porém.

Sylvia Araujo

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Até o nunca mais viver sem ti



Feriu-me irreversivelmente as retinas esse teu riso solto, branco, afiado - tão displicente, blasé. A pior das tuas armas, os dentes (sempre). E você bem sabe que assim, ligeiramente entortados, tão arte contemporânea - tão livres! - são sempre um forte agravo à minha condenação: querer-te imenso até o nunca mais viver sem ti. O golpe mais baixo - ainda mais baixo que a rebeldia dos dentes a fugir dos trilhos dessa tua boca bonita - é o tal meio-olhar de lado, também entortado, esse tanto-sarcasmo, meu deus! Essa santa transparência, aí, cor de mel que carregas; que me faz assim tão nua a mim, que ando bem vestida de medos nos últimos tempos; que ando incontáveis feridas abertas; que ando cega. (Vendou-me, o amor). E cega não enxergo as chagas, sou só planos: um dia, mistura homogênea-nós dois; um dia, um não saber inícios, nem fins - um dia nós.
Atados; eternos.
Um dia (a) sóis.

Sylvia Araujo