Foto do blog: Mario Lamoglia

domingo, 26 de setembro de 2010

F(r)io



Amolou a lâmina fina na pedra gasta e atestou o fio da faca na palma da mão. O aço cortante fez brotar um rio vermelho entre as linhas da vida e da morte. Faltou sorte. E um coração no peito. Com o olhar perdido no reflexo do espelho, afundou a ponta brilhante na veia saltada do pescoço. O colo arfante suspirando o último ontem. O frio do medo, o frio da lâmina, o frio do fio - tênue. Sangrou todos os medos, escorrendo todas as dores. E acabou. Sorrindo.


Sylvia Araujo

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um cisco



No broto manso
o pavor da foice.
Já se nasce
à beira da morte
- diz a noite.

O sopro pálido
leva a flor de goiabeira
pra longe.
O vácuo frio
engole a chama tremulante
da vela  
- o pavio, a cera
o toque do tambor, o uivo.

Um silvo longo
anuncia o tempo
que mingua
estreito 
antes um cisco
do horizonte corar
diante de tanta beleza:

A aurora em mim.


Sylvia Araujo