Foto do blog: Mario Lamoglia

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Saber Viver

"Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar."
Cora Coralina

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Trilha sonora

Recipiente
[Maurício Pereira]

" Sou recipente não tenho forma
Porque sou areia do fundo do mar

Sou ilha, sou montanha
Que o navio perdido vai avistar
Flutuo, mergulho, sólido, interno
Secreto pesado sujeito a voar

Sou recipiente...

Sou o sol que bate na crista da onda
Que a lua noite vai abraçar
E quando a vejo lá no horizonte
Nosso amor a tarde afoga devagar

Sou recipiente...

Sou nuvem pousada no canto dos vales
Que o vento carrega
Deixando enxergar
A diferença entre o dia e a noite
A diferença entre a serra e o mar..."

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cores de Almodóvar



Mesmo que Abraços Partidos, recém saído do forno, nos imprima as sensações controversas de que talvez tenha passado demais do ponto, ou ficado um pouco cru por dentro, não tem como dizer que o diretor espanhol perdeu a mão. A câmera pelos seus olhos faz mágica. Sempre. E mesmo ainda que não tenha me rasgado de amores por essa película - que não é nem de longe sua melhor direção - as cores de Almodóvar não largam minhas retinas, muitas horas depois de ter saído da sala de projeção. Seu olhar ousado e absurdamente criativo e detalhista tornam imortais cenas como a imagem refletida na íris de Lena, a lágrima escorrendo pelo tomate numa cena de Garotas e Malas, a praia lotada de pipas depois da recém cegueira de Mateo, as confissões de Judith vistas por fora da janela do bar, dentre tantos outros mimos à nossa alma.
Pedro Almodóvar é extraordinariamente genial. E eu aguardo sempre ansiosa sua próxima efervecente aparição.

Sylvia Araujo

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Alma de Noêmia



"Ela cantava. A voz me chegava de longe e se derramava no quarto como um bálsamo. Via então Noêmia tão simples, a falar com uma franqueza que não me chocava. Campos dizia que ela tinha alma de borboleta. Alma de quem não parava sobre as coisas e de quem corria livre ao sol, pelos campos, toda coberta de cores, como se fossem flores a voar."

José Lins do Rego, em Eurídice.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Nem mais um dedo

- Não me venha com esse riso frouxo dos alforriados, dos enlouquecidos! Eu não quero qu'essa alegria suja me corrompa os dias, me lambuze os beiços. Sobremaneira entenda que eu não tenho laços - não, não tenho traços. Está tudo acabado!

- José, não destrate tanto nosso amor de bodas... Não te quero entranhas, só teu riso fácil das camélias livres, das ervas de cheiro... Não rasgue assim meu peito, não arranhe os discos. Te suplico, amor, não assopre os sonhos!

- Eu não tenho sonhos. Eu não tenho medo. Sou o que me resta e nem mais um dedo.

Sylvia Araujo

Engasgo

Muitas das cores que hoje me margeiam vêm dos sorrisos engasgados do sol, em dias de nuvens muito cinzas - quase pretas. Esse luxo de simplicidade faz meu olhar crescer como as sementes que rangem aos pingos - que se abrem sorrisos ao alvorecer.

Muitos dos cheiros que me cirandam hoje vêm dos soluços engasgados da lua, em noites de nuvens muito brancas - transparentes, quase nuas. Essa luxúria de poesia faz meu coração saltar como os sonhos que florescem ao tempo - que abocanham sentidos ao entardecer.

E das desurgências hoje eu sinto o gosto, um sabor intenso que me toma inteira - tal qual engasgo de amor latente.

Sylvia Araujo