Foto do blog: Mario Lamoglia

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Rio de Janeiro continua...

Male

-molência


Ziri

-guidum


Boro

-godó


Bala

-cobaco


Só no telecoteco!
(Ê, vida boa!)

Sylvia Araujo

terça-feira, 26 de maio de 2009

Degradação




A criatura já virou estátua, múmia ou qualquer coisa que não se mova sem vento. Parece que brotou lá, no âmago do boteco mais imundo que já vi na vida, surgindo soberba do meio das engulhantes poças de cerveja-insone e suor-mal-cheiroso.
Com cabelos em pleno incêndio, entupidos de laquê endurecido, despenteados com todo o zelo pro alto, mas bem pro alto mesmo, ela nem pisca. Olha adiante, embora me pareça amordaçar o passado a todo instante. Ela grita sem emitir um único som.
Não sei como ou quando se aninha, nem em que condições vai embora, mas é certo de que ofusca os olhos de quem passa a qualquer hora, estupidificada que se faz por paetês, balangandãs e cintilantes afins, pleno sol à pino. Dos pés à cabeça ela reflete.
É tanta ruga, mas tanta ruga, que a maquiagem pesada faz crosta no meio dos sulcos. E o batom, nem precisava dizer, corre confuso pelos tons de vermelho: sangue, cereja, morango, chaga aberta. Isso, quando não se faz perceber camadas sobrepostas de todos eles juntos - uma cicatriz sentada na outra.
Tem sempre uma cerveja aberta, já reparei, um copo cheio e uma companhia - que nem sabe seu nome e está sempre de costas. Nem deve ter nome. Sequer ser chamada. Tampouco parece respirar, ou sorrir, ou chorar.
Toda vez que passo por sua mesa cativa, meu coração procura por ela. E ela está invariavelmente lá, implacável, em seu mundo distante. Em um mundo próprio de brilhos e sonhos.

Toda vez que passo por ela, ela vai embora comigo.
Toda vez que passo por ela, ela se deixa levar.
Pra qualquer lugar.

Sylvia Araujo

Filho

Feito brisa,
Chega morno e arrebata.
Palpitar sem freio;
Medo incontinente do porvir.
É um não saber,
Mesmo sentindo tudo
- mesmo sofrendo tudo,
mesmo amanhecendo sempre.

Quando semente,
Em meus sonhos: flores.
E agora que brota firme,
Só penso em enraizar.
Sigo em luta pela firmeza dos galhos,
Pela presteza do norte,
Pelo ocaso da sorte...

Eu o quero Mar
- meu ventre -
Bravio ou contido,
Tudo o que for de teu.

Eu o quero Vida,
Palpitante, enorme
- Imensidão azul...

Sylvia Araujo

Hoje...




"O que menos quero pro meu dia
polidez, boas maneiras.
Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignoro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás...)

Hoje só quero ritmo.
Ritmo no falado e no escrito.
Ritmo, veio-central da mina.
Ritmo, espinha-dorsal do corpo e da mente.
Ritmo na espiral da fala e do poema.

Não está prevista a emissão
de nenhuma “Ordem do dia”.
Está prescrito o protocolo da diplomacia.
AGITPROP – Agitação e propaganda:
Ritmo é o que mais quero pro meu dia-a-dia.
Ápice do ápice.

Alguém acha que ritmo jorra fácil,
pronto rebento do espontaneísmo?
Meu ritmo só é ritmo
quando temperado com ironia.
Respingos de modernidade tardia?
E os pingos d’água
dão saltos bruscos do cano da torneira
e passam de um ritmo regular
para uma turbulência
aleatória.

Hoje... "

[Waly Salomão]

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Trilha sonora

Vida
[Chico Buarque]

"Vida, minha vida,
Olha o que é que eu fiz:
Deixei a fatia mais doce da vida
Na mesa dos homens de vida vazia.
Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz...

Vida, minha vida,
Olha o que é que eu fiz:
Verti minha vida nos cantos, na pia,
Na casa dos homens de vida vadia.
Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz...

Luz, quero luz.
Sei que além das cortinas são palcos azuis,
E infinitas cortinas com palcos atrás.
Arranca, vida,
Estufa, veia,
E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa, pulsa mais...

Mais, quero mais...
Nem que todos os barcos recolham ao cais;
Que os faróis da costeira me lancem sinais.
Arranca, vida,
Estufa, vela,
Me leva, leva longe, longe, leva mais...

Vida, minha vida,
Olha o que é que eu fiz:
Toquei na ferida, nos nervos, nos fios,
Nos olhos dos homens de olhos sombrios.
Mas, vida, ali, eu sei que fui feliz.

Luz, quero luz.
Sei que além das cortinas são palcos azuis
E infinitas cortinas com palcos atrás
Arranca, vida,
Estufa, veia,
E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa, pulsa mais...

Mais, quero mais... ,
Nem que todos os barcos recolham ao cais
Que os faróis da costeira me lancem sinais.
Arranca, vida,
Estufa, vela,
Me leva, leva longe, longe, leva mais...

Vida, minha vida:
Olha o que é que eu fiz..."

terça-feira, 12 de maio de 2009




Saindo de fino,
No fino da bossa,
Do fundo da fossa,
Do alto do morro.
Pedindo socorro,
Canela ralada,
Cabeça parada,
Futuro perdido.

Ele corre...
Canta, vibra,
Dança, escorre.
Ele morre.

Saindo da vida,
Na dor da ferida,
De-cadente partida,
Por debaixo dos panos.
Suplicando alegria,
Estampando sorriso,
Presente é presente
- Embrulhado em jornal.

Ele paira...
Sobrevoa, surge,
Imenso - urge.

Ele sangra.

Sylvia Araujo