Foto do blog: Mario Lamoglia

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Ana Carolina)

Tolerância
[Ana Carolina]

"Como água no deserto
Procurei seu passo incerto
Pra me aproximar
A tempo
O seu código de guerra
E a certeza que te cerca
Me fazem ficar atento
Não me importa a sua crença
Eu quero a diferença
Que me faz te olhar
De frente
Pra falar de tolerância
E acabar com essa distância
Entre nós dois

Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar, eu sei
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar

Como lava no oceano
Um esforço sobre-humano
Pra recomeçar
Do zero
Se pareço ainda estranho
Se não sou do seu rebanho
E ainda assim
Te quero
É que o amor é soberano
E supera todo engano
Sem jamais perder
O elo
E é por isso que te espero
E já sinto a mesma coisa em seu olhar

Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar, eu sei
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar"

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Fagner)

Canteiros
[Cecília Meireles / Fagner]

"Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me traz contentamento
Pode ser até manhã
Cedo, claro feito dia
Mas nada do que me dizem
Me faz sentir alegria

Eu só queria ter no mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

Que eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida"

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Linha tênue

Caminho sempre na linha tênue entre romper e solidificar.
É isso que dá sentir tudo.
É isso que dá sentir demais.

Sylvia Araujo

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Zélia Duncan)

Carne e Osso
[Zélia Duncan]

"Alegria do pecado
Às vezes toma conta de mim
E é tão bom
Não ser divina
Me cobrir de humanidade
Me fascina
E me aproxima do céu...

E eu gosto
De estar na terra
Cada vez mais
Minha boca se abre
E espera
O direito ainda
Que profano
Pro mundo ser
Sempre mais humano...

Perfeição demais
Me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito
Insosso!
Prá não ser de carne e osso
Prá não ser
Carne e Osso!"

Grito mudo



Às vezes queima tanto, mas tanto, que é como se o peito estivesse sendo dilacerado pelas unhas mais afiadas... A vontade que dá é de soltar um urro e lançar tudo pela janela - ver voar roupas, objetos e sofrimento - pra depois sentar na quina do rodapé, com as pernas dobradas e a testa encostada nos joelhos, e cantarolar baixinho, como que ninando o choro, como que acalmando a fera.
Às vezes dói tanto, mas tanto, que é como se a cabeça estivesse sendo esmagada por uma prensa gigante... A vontade que dá é de sair correndo, com os braços abertos, deixando que o vento carregue pra longe tudo o que fere - pra depois cair no mar e nadar, nadar com fúria, até ficar exausta e não sentir mais nada: nem as pernas, nem os braços, nem a garganta, que insiste em fechar.

A vontade que dá é de esmurrar as paredes, até os nós dos dedos sangrarem.
A vontade que dá é de arrancar os cabelos aos tufos, com toda força do mundo.
A vontade que dá é de dormir encolhida no chão do banheiro.
E nunca mais acordar.

Mas vontade passa.
Enquanto espero que ela vá, mastigo os cantos das unhas, recuso comida e soluço trancada no armário. (Sim, eu me firo. Faço isso porque me sinto incapaz de ferir qualquer outro que não seja eu mesma.)
Vontade passa. E eu ainda tenho forças pra fazer ela passar...
Enquanto espero que ela vá, olho pro mundo com aqueles olhos distantes de incredulidade, sem ver um palmo à frente.

Ainda bem que vontade passa...

Sylvia Araujo

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vaaaaaiiiiii!

- Não seja gelo, derreta! Desfaça essa máscara; ela não serve pra nada e não cai bem em você.
- Não seja métrico, descambe! Desfaça essa rima; ela te prende e amordaça, não te deixa viver.
- Não seja pudor, pereça! Desfaça esse muro; ele te isola do mundo e te afasta das cores.
- Não seja prazo, se expanda! Desfaça limites, eles seguram teus passos, te bloqueiam os sonhos.

- Tome as rédeas! Tome as rédeas agora! Vaaaaaiiiiiiiiiiiiii!



(Começo jogando por terra - e pela janela - tudo aquilo que me define. E me refaço, me transformo - reconstruo...
Não aceito rótulos e legendas, quando posso ser - e me tornar - absolutamente tudo o que eu quiser, em qualquer momento que desejar. Absorvo, a todo instante, cada preciosa minúcia e internalizo. Faço do som, cheiro, gosto, textura, uma cartilha que estudo incansavelmente, até me tornar a própria, pra depois ventar tudo ao ar. - Eu gosto de me forçar partir, porque quando volto, volto sempre a preencher. Eu sou lacunas: milhões delas.
Ainda me transformo natureza... Ô! Ainda, feito camaleão, mimetizo e me desfaço para ser outra, a cada nova casca de árvore que apareça; ainda desintegro sob tal palavra ou fração e me retorno, branda...
Então minhas asas se abrirão a cada vazio que encontrarem, pra que, em viagem liberta, eu possa me encher novamente, até que o peito quase arrebente - eu quero estar cheia de vida.
Eu quero mesmo é transbordar!)

- Não; não me contenha!

Sylvia Araujo

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Fhernanda)

Procura-se
[Fhernanda Fernandes e Isolda]

"Procura-se
Alguém especial
Cem por cento alto astral
Que acredite em sentimentos
Que seja amante, amigo,
Sem censura
Seja música e aventura
Para dividir comigo o meu momento
Procura-se
Um tipo sonhador
Apaixonado pelo amor
Pra ser mais que mais um caso
Procuro um coração vago e seguro
Que procure o que eu procuro
Pra trocar felicidade a longo prazo
Procura-se
Um grande amor
Que apareça de repente sem mistério
Que me pegue e me leve quase a sério
Que me ame exatamente como eu sou
Procura-se
Um grande amor
Que me deixe amar
Do jeito que eu sempre quis
Se eu insisto
Me perdoa
Mas procuro uma pessoa
Que ainda tenha tempo
Para ser feliz. "

Aiiii, aiiii...



Que vontade de comer goiaba!


(Das internas. E das boas. Ô! E bota boa nisso... ai, que vontade que dá...)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Seja um idiota

"A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:
passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!"

Arnaldo Jabor


Ai, que delícia! Eu me esforço todo dia pra ser uma completa idiota! (porque meio eu já sou! rsrsrs)

Desassossego

"À raça dos desassossegados pertencemos todos, negros e brancos, ricos e pobres, jovens e velhos, desde que tenhamos como característica desta raça comum, a inquietação que nos torna insuportavelmente exigentes com a gente mesmo e a ambição de vencer não os jogos, mas o tempo, este adversário implacável.

Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.

Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.

Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam ao concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam.

Desassossegados não podem mais ver o telejornal que choram, não podem sair mais às ruas que temem, não podem aceitar tanta gente crua habitando os topos das pirâmides e tanta gente cozida em filas, em madrugadas e no silêncio dos bueiros.

Desassossegados vestem-se de qualquer jeito, arrancam a pele dos dedos com os dentes, homens e mulheres soterrados, cavando uma abertura, tentando abrir uma janela emperrada, inventando uns desafios diferentes para sentir sua vida empurrada, desassossegados voltados pra frente.

Desassossegados desconfiam de si mesmos, se acusam e se defendem, contradizem-se, são fáceis e difíceis, acatam e desrespeitam as leis e seus próprios conceitos, tumultuados e irresistíveis seres que latejam.

Desassossegados têm insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha esquizofrenia; não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz uma paz inconsciente.

Desta raça somos todos; eu sou. Só sossego quando me aceito."

Martha Medeiros

Contenção

Despertou no meio da madrugada escura, cheia de silêncio. Tateou ao lado e esbarrou o vazio. Tocou a testa, se descobriu febril - o corpo ardia... Da fronte úmida escorria o sonho. (Sentiu a respiração ofegante na nuca - tão quente - como a segundos atrás) Latejava amor contido. Pulsava espasmos. Ao abrir os olhos se encontrou sozinha...
Despertou no meio do silêncio escuro, cheio de madrugada. Levantou da cama e pegou o isqueiro. Acendeu a chama, certa de extrair da fumaça companhia - o coração sofria... Abriu o chuveiro, e sob a melodia da água se fez corredeira. (Com a brasa queimando na beira da pia, submergiu no rio - até ficar sem ar) Latejava vontade. Pulsava o desejo de sentir aqueles braços um dia...

Secou os cabelos com o vigor de quem expulsa pensamentos. Deitou nua. Fechou os olhos e adormeceu. Não despertou mais.
(Sem nem sequer perceber, se entregou sorrindo...)

Sylvia Araujo

quarta-feira, 15 de outubro de 2008



Eu não quero ser teu porto; mas o barco que te navega pra longe...

Sylvia Araujo

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Eu não vou esperar até os 40!

Coisas que a vida ensina depois dos 40
[Artur da Távola]


"Amor não se implora, não se pede, não se espera... Amor se vive ou não.
Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.
Animais são anjos disfarçados, mandados à terra (...) para
mostrar ao homem o que é fidelidade.
Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.
As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.
Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.
Água é um santo remédio.
´O choro foi inventado´ para o homem não explodir.
Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.
Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.
A criatividade caminha junto com a falta de grana.
Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.
Amigos de verdade nunca te abandonam.
O carinho é a melhor arma contra o ódio.
As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.
Há poesia em toda a criação divina.(...)
A música é a sobremesa da vida.
Acreditar, não faz de ninguém um tolo. Tolo é quem mente.
Filhos são presentes raros.
De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças a cerca de suas ações.
Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que
abrem portas para uma vida melhor.
O amor... Ah, o amor... O amor quebra barreiras, une facções, destrói preconceitos, cura doenças... Não há vida decente sem amor!
E é certo, quem ama, é muito amado. E vive a vida mais alegremente..."

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A/C Deus

Prezado Deus,

Eu nem sei por onde começar. Na verdade acho que o início deveria ser o final e, com o meio entremeando tudo, talvez eu pudesse me fazer entender. Ou não. Pode até parecer que estou confusa, mas nunca estive mais lúcida em toda a minha vida. Resumindo tudo, cheguei à uma conclusão que queria dividir contigo: eu não acredito em você (talvez tente desenvolver todas as elocubrações que me fizeram chegar a esse ponto em outras cartas, mais tarde). Nunca tive coragem de te dizer isso assim, na lata; mas é isso aí: você não existe. É fantasia humana, ponto de apoio, crença infundada... É claro que isso não é nada definitivo. Mas, a não ser que você tome uma cerveja comigo sentado na mesa da sala, enquanto trago meu cigarro lentamente, te olhando no fundo dos olhos, você não me convence. Ah, não mesmo!
Desculpa estar te falando isso tudo assim, desse jeito, de uma vez só, mas não sou mulher de mentir. Não gosto dessas coisas mal resolvidas, assim, pela metade. Então, vamos deixar bem claro: você segue por aí, que eu sigo por aqui. Nem precisa se desgastar (tem muita gente por aí que sente a sua falta. Eu não sinto a mínima, então relaxa e goza!) porque eu vou muito bem obrigada com as minhas pernas. Resolvi me dar crédito quando alguma coisa boa acontece na minha vida; (isso é um progresso e tanto, não acha?), e me xingar de tudo quanto é nome quando faço uma merda muito grande (é, aqui continua tudo na mesma). Mas a vida é isso aí. É assim que a gente cresce. E nem vem com essa história de dizer que ainda tem a outra vida pra pagar as jumentices que insisto em cometer, e colher os frutos das minhas boas ações diárias, que não tô afim de esperar não. Você já me conhece bem, e sabe que eu não espero por porra nenhuma. Eu vou lá e pego o que é meu. Ou não. Mas eu vou. Você acha mesmo que eu vou esperar morrer pra resolver o que deixei pra trás? Ha, ha, nunquinha, cara...
Bom, era mais ou menos isso que eu tinha pra te falar. Se não entender alguma coisa, me liga depois das 20 horas, que te explico. Desculpa aí, ter sido tão direta e franca, mas tava cansada dessa enganação: eu finjo que acredito em você, e você finge que acredita em mim... já estamos bem crescidinhos pra isso, né? Melhor assim, tudo às claras, você não acha? Ninguém magoa ninguém e fica tudo certo.
Vou nessa, que tempo é dinheiro. Tenho que ralar muito ainda, e viver intensamente os meus minutos. Um dia eles acabam... Aí não vai dar pra ficar chorando pelo leite derramado. Derramou, tá derramado; já era. Então...

Fica com Deus. (essa foi muito boa! Há!)

PS.: Obrigada por estar ao lado de pessoas de coração puro, mas tente não deixar que teu nome vá parar na boca de qualquer um. Seja mais reservado! O ser humano é um bicho complicado... se cuida. E qualquer coisa, tamos aí!

Sylvia Araujo

domingo, 12 de outubro de 2008

Trilha sonora

(clica no título pra ouvir Zeca Baleiro)

Flor da pele
[Zeca Baleiro]

"Ando tão à flor da pele,
Que qualquer beijo de novela me faz chorar,
Ando tão à flor da pele,
Que teu olhar flor na janela me faz morrer,
Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser,
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele tem o fogo do juízo final.

Um barco sem porto,
Sem rumo,
Sem vela,
Cavalo sem sela,
Um bicho solto,
Um cão sem dono,
Um menino,
Um bandido,
Às vezes me preservo noutras suicido.

Oh sim eu estou tão cansado,
Mas não pra dizer,
Que não acredito mais em você
Eu não preciso de muito dinheiro graças a Deus
Mas vou tomar aquele velho navio,
Aquele velho navio.."

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Desiderata

(Do Latim desideratu: aquilo que se deseja, aspiração)

Encontrado na Igreja de Saint Paul em Baltmore (EUA) em 1692.

"Siga tranqüilamente entre a pressa e a inquietude, lembrando-se que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível, sem se humilhar, mantenha boas relações com todas as pessoas.
Fale a sua verdade mansa e claramente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes, pois eles também têm sua própria história.
Evite as pessoas escandalosas e agressivas. Elas afligem o nosso espírito.
Se você se comparar com os outros, tornar-se-á presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém superior e alguém inferior a você.
Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui, e mesmo sem você perceber, a Terra e o Universo vão cumprir o seu destino.
Desfrute das suas realizações, bem como dos seus planos. Mantenha-se interessado em sua carreira, ainda que humilde, pois ela é um ganho real na fortuna cambiante do tempo.
Tenha cautela nos negócios, pois o mundo está cheio de astúcias, mas não se torne um cético porque a virtude sempre existirá.
Muita gente luta por altos ideais e em toda a parte a vida está cheia de heroísmo. Seja você mesmo, principalmente. Não simule afeição.
Não seja descrente do amor, porque mesmo diante de tanta aridez e tanto desencanto ele é tão perene quanto a selva.
Aceite com carinho o conselho dos mais velhos e seja compreensivo com os arroubos inovadores da juventude.
Alimente a força do espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão, e a despeito de uma disciplina rigorosa. Seja gentil para consigo mesmo (...)
Na fatigante confusão da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma, apesar de todas as falsidades, fadigas e desencantos. O mundo ainda é bonito.
Seja prudente e faça tudo para ser feliz!"


Vamo que vamo! ;o)

Trilha sonora

Casa pré-fabricada
[Marcelo Camelo]

"Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela, a primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota

Canto que é de canto que eu vou chegar
Canto e toco um tanto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais"

Simbóra!

Volta por cima
[Paulo Vanzolini]

"Chorei, não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim, não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher
Venha lhe dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira
Dá a volta por cima"

Maldita-viva

Maldito grito que não me escoa,
Maldito nó na garganta muda,
Maldito verbo que se cansa e cala.
Maldita letra que não me expressa,
Maldita fome que me alimenta,
Maldito sonho que me faz insone.
Maldito desejo de alegria,
Maldita vontade de amor,
Maldita crença no ser-humano,
Maldito peito cheio de dor.
Maldita sou eu que não desisto,
Malditos meus passos sempre constantes,
Maldito futuro cheio de planos,
Maldita mente que me agoniza.
Malditos beijos,
Malditos laços,
Maldito eixo,
Maldito abraço.
Maldita arte que me enlouquece,
Maldita música que me ensurdece,
Maldita poesia que me anoitece.
Maldita vida,
Vida tão maldita...
(Toque me encanta,
Cheiro me leva,
Gosto me espanta...)
Maldita vida que me reflete
E me faz sofrida,
Maldita-viva...

Sylvia Araujo

Colo

Colo é terra regada por olhos de dor.
É certeza de ninho em tempestade.
É discurso carregado de silêncio.

Sylvia Araujo

Cicatriz

Cicatriz pulsa-lateja.
Ferida aberta, escancarada
Por trás da pele fina de sorriso.
Tô cansada de doer.
Tô exausta de tanta guerra
Travada por paz;
Exaurida de fortaleza.
Eu estou ruínas,
Vou por um triz...

Cicatriz sangra-escorre.
Dolorido viver no salto,
Cabeça erguida, coração aberto.
Tô cansada de morrer e reviver
- Sem respirar, espairecer.
Eu quero férias
Pra chorar na sala!
Estou um caco,
Vou meretriz...

Sylvia Araujo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Trilha sonora

Bom pra você
[Zélia Duncan]

"Faça o que é bom
Sinta o que é bom
Pense o que é bom
Bom pra você

Coma o que é bom
Veja o que é bom
Volte ao que é bom
Bom pra você

Guarda pro final
Aquele sabor genial
Se é genial pra você

Tente o que é bom
Permita o que é bom
Descubra o que é bom
Bom pra você

Um dia você me conta
Um dia você me apronta
Um resumo
Do supra-sumo do seu prazer

Pese o que é bom
Perceba o que é bom
Decida o que é bom
Pra você
Decida o que é bom pra você..."

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Saí

Enquanto não se decidir, eu não estou pra você. Saí.

Sylvia Araujo
Eu não sou atalho; sou caminho.
(único, indesviável, indestrutível, indissolúvel)

Sylvia Araujo

Próton

Jurou a si mesma não mais escurecer.
Decidiu estampar nos olhos, o riso de quem ama viver.
- Mas isso não desabona sua luta-labuta de quem tem coração...
Ela sofre, mas não faz do desejo de morte sua alforria da dor.
Ela dói; ela escorre...
Porém, aprendeu com as bruxas a mexer caldeirão: não remói as loucuras - comete.
Ela arde de amor.
Ela é toda calor...

Sylvia Araujo

Elétron

Um dia acordou relutante e recusou a gaveta dos pretos. Escolheu a camisa mais clara esquecida no fundo do armário e saiu. O azul atravessou seus olhos e ganhou o mundo; de cinza o dia virou multicor. De peito aberto experimentou os gostos, saboreou os cheiros, se abriu sorriso; paralizou.

No outro dia levantou tristeza e se entregou. Abriu a gaveta de sempre e pegou a camisa surrada - ato reflexo. Desamassou a dor no corpo, enquanto saía - olhos no chão.
Choveu. Como sempre chovia desde que se lembrava dos dias. Não adianta: preto é preto - invariável.
Esqueceu o azul e os sonhos e escolheu enterrar-se vivo.
Mais fácil assim...

Sylvia Araujo

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Hiato criativo

A tela branca implora matizes. E as linhas, reticências. Tem dias em que elas se trancam e não se revelam por nada. Gritam sentidos confusos; interrompidos-inseguros. Alguns rabiscos acabam, no entanto, se insinuando por medo da dor. Mas por falta de encantos, desistem. E se entregam, fazendo - de fato - ferir e agonizar o amor.
Na tela lisa vem traço em preto; diagonal, inexpressivo. O sol não possui amarelo, e da rosa não escorre tampouco o vermelho. As cores acordaram egoístas, e não vão dividir seus fascínios - já me disseram - com o peito vazio que empunha o pincel. É preciso sonhar...
Nas linhas amargas, palavras distantes suplicam um elo; não enxergam razão. Precisam do peito repleto de ardor, e no oco do meio não encontram nada, nada além de estranho e extremo rigor. Elas querem dançar sem os passos marcados, mas a mão que empunha a caneta, o ritmo desencontrou, e por fim, o calor esfriou . Sem sentimento a poesia não vive. É preciso vibrar...

(A miséria - no fundo - é da alma, que insiste em enxergar preto e branco um mundo tão cheio de tons e nuances. Miseráveis aqueles que impedem que bailem - em seu ritmo próprio - as letras que vivem tão dentro de si.
Que o tempo desfaça o hiato. E que, depois da tempestade, nos chegue a bonança e a abundância, de um tempo repleto de cores e letras, que se entrelaçam - e se mostram - felizes e inteiras de fato)

Sylvia Araujo