Foto do blog: Mario Lamoglia

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Toujours


Num dia de janelas batendo, em pleno cinza-grajaú, ela viu o roda-moinho de folhas e plumas no canto da rua; naquela mesma esquina onde atravessa - sempre! - sem olhar pros lados.
Juntou os dois pés - unhas vermelhas pra fora do couro - e encolheu os joelhos - um encostado no outro. De um impulso, de uma só e única vez, saltou e sumiu no centro. Não teve medo (ela nunca tem; afinal, não é qualquer uma que pega baratas pelas antenas).
O que dizem é que se perdeu, sem nada achar, lá no fundo daquele olho tão cheio de mundo...
Maledicências, já que ela tanto gosta de se perder - sempre gostou, é verdade! - por que é justo aí que, inexplicavelmente, se encontra. Toujours.

Sylvia Araujo

Olhos


Quando a gente sente falta dos olhos, é sério. Muito sério.
A saudade do cheiro, do gosto, do jeito, é natural quando se gosta, mas quando os olhos nos faltam, é porque a alma nos toca, nos admira... Quando a gente sente falta dos olhos, sente falta da alma. E isso é sério. Muito sério.
Sinto constantemente a ausência do transbordar do sorriso. Ou da dor; seja o que for. Da transparência do castanho rasgado, expressivo, imponente. E sinto falta mesmo quando ainda posso alcançá-lo. Ainda posso, disso eu sei. O que talvez doa é a certeza que tenho hoje do amanhã que vem, e de que os olhos - aqueles tão límpidos - vão, nesse mesmo dia, partir também.
Eu não sei o que faz a distância. Eu não sei o que será dos olhos - nossos - nos extremos térmicos do globo. Pode ser que o meu calor gele, e congele, longe daquele olhar que derrete. Ou talvez mantenha-se quente pra não deixar que o dele gangrene, e não volte jamais a brilhar. Perto ou longe, eu quero é brilho. Esse brilho que hoje, no ápice da minha vida, me faz acordar, sorrir e me encantar...

Sylvia Araujo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Áries


Áries chegou, entrou, se esparramou. Me trouxe a promessa de um vinho - tinto e seco - e o desejo de mar, de céu, de luar... Afagou meus cabelos e ofereceu seu sorriso mais franco e seu abraço mais quente. Atrás de si vai bater a porta em breve, e deixar seu rastro cheirando à vida...
Elas seguem - a vida e eu. Áries também.

De passaporte em punho, espero o dia de sentir o calor da neve outra vez...

Sylvia Araujo

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Uníssono


Ele é único em uma parede repleta de uns. Se faz Todo em sua individualidade, enquanto dissolve no amplo mar de possibilidades dos papéis em claustro. É a peça que falta, o momento que vibra, o que sacia o incompleto.
Dentre todos, o mais belo sempre é aquele que escorre pintando o resto; fazendo do Todo - Um, tornando o Um incerto.

Sylvia Araujo



Uma amiga amada, deslumbrante-lírica me ligou. Precisava de impressões e escritos diversos sobre um único tema - O Um. Eu ri e por dentro o comichão começou. O que dizer? Quando comecei a esboçar elocubrações sobre o assunto é que percebi a vastidão da unicidade. E quanta coisa pode ser dita sobre ela, coisas incrivelmente controversas... Entrei em estado de alerta e o cérebro não parou de funcionar. Gostei dessa coisa de escrever sobre o simples, porque na verdade o simples é muito mais complexo do que a gente imagina.

Ana-gira-sol ainda aguarda contribuições no blog (di-vi-no, diga-se de passagem). É segredo a utilidade de tantos verbos, mas garanto que vale a pena, nem que seja pra descobrir a magnitude do número Um e suas diversas nuances.

Então, meu povo, dá uma olhadinha nas minhas menções honrosas aí do lado; acessem o Poeminhas-Gato e façam a engrenagem de cima funcionar. É um espetáculo - assino embaixo! ;o)